Não satisfeitos com a revogação do Código Florestal de 1965, produzido sob inspiração do Ministro da Agricultura à época, os “desenvolvimentistas” ainda querem se vangloriar da façanha. Os argumentos continuam os mesmos. A Europa foi o caso emblemático da mais completa devastação de sua cobertura vegetal. Hoje possui 0,1% de seu território coberto de árvores. A África tem pouco mais de 5% da vegetação original.
Enquanto isso, o Brasil poderia se orgulhar de possuir 30% de todas as florestas do planeta. O discurso procura atenuar a verdade incontestável: continuamos a destruir o verde. A um ritmo avassalador. O Brasil chega ao cúmulo de festejar a redução das áreas destruídas, fazendo operações aritméticas para provar que num ano se derrubou menos árvores do que no ano anterior. Mas não lembra que a queimada continua.
E comemora a queda demolitória, como se fosse algo ensejador de orgulho. É incrível não se tenha descoberto ainda que a desertificação ocasionará o desaparecimento da vida na Terra. A mata equilibra o clima, estabiliza o regime pluviométrico, renova a oxigenação. Ameniza o efeito estufa, embeleza a paisagem. Pensar que o Brasil já ostentou a luxuriante mata atlântica em seus oito quilômetros de costa e tudo foi eliminado em pouco mais de 400 anos, período muito curto para tamanha tragédia!
A última esperança é a criação de uma nova mentalidade nas crianças. Estas é que devem alertar seus pais sobre os perigos da eliminação da biodiversidade. Estas é que devem exigir do Poder Público regras mais restritivas em relação às áreas de preservação permanente, à preservação do patrimônio natural que ninguém construiu, mas que a cobiça e a cupidez conseguem excluir para resultar em imenso, irreparável mesmo, prejuízo para toda a humanidade.
A minha geração foi muito inconsequente. As que vieram depois têm sido negligentes. A inconsciência ainda reina. Responderemos por isso. O julgamento da História será extremamente rígido em relação aos detratores da natureza. As crianças, quando adultas, serão forçadas a restrições e a traumatismos, tudo por sermos cegos, surdos, insensíveis aos estertores de uma natureza que agoniza, depois de tanto clamar por socorro.