No mundo egoísta, interesseiro e do imediatismo, esquecemo-nos dos nossos ancestrais. A morte leva os seres queridos e deles nos olvidamos com facilidade. É raro alguém morrer de saudades! Por isso é que se diz, na sabedoria popular, “viúvo é quem morre”. Quem sobrevive dá um jeito de se acomodar à nova realidade.
Somos individualistas na vida familiar e no convívio institucional. Os padrinhos também já não são levados a sério. As pessoas aceitam o convite dos pais para batizar uma criança e ao menor desentendimento se desvinculam da criança à qual prometeram servir como substitutos da maternidade/paternidade biológica.
Não é diferente em relação aos “patronos” de nossas conquistas. Quem se lembra do “paraninfo” nos vários diplomas, do Presidente da Banca que nos aprovou em algum concurso, do Patrono do colégio?
Consciente disso e me incluindo no rol dos culpados desse crime de ingratidão, procuro às vezes me redimir. Agora mesmo, vejo que José Bonifácio, Patrono da minha Cadeira 40, na Academia Paulista de Letras, nasceu num 13 de junho há 250 anos. Só falei dele na minha posse, há 10 anos. Era um ecologista, um ser de vanguarda e profético. Merece ser chamado “o primeiro brasileiro”, diz Rubens Ricupero (FSP, 10.6.13). Não poderia mesmo ser perdoado pelos contemporâneos.
Young da Costa Manso é meu patrono na Academia Paulista de Direito. Só fiz o seu elogio na minha posse. Mas tenho pensado nele todos os dias, desde que assumi a Corregedoria Geral da Justiça. Foi um incentivador, um homem superior, um espírito insuperável.
Padre Belchior de Pontes é meu patrono na Academia Cristã de Letras. Estive há dias em Itapecerica da Serra e não sabia que aquele é um espaço em que o jesuíta brilhou e deixou senda inolvidável. Foi tão importante que sua biografia, escrita pelo companheiro de batina Pe. Manoel da Fonseca, foi apreendida e destruída pelo Marquês de Pombal. Nasceu em 1644 e faleceu em 22 de setembro de 1719 e seu nome é uma lenda na região.
Nossa miserável memória se esquece com facilidade dos que foram importantes para nós e para a História. Como se não fizessem falta. Como se o mundo ainda fosse o mesmo depois de sua partida. Exatamente como acontecerá depois da nossa despedida deste triste planeta.