Faleceu aos 95 anos Nelson Mandela, ex-presidente da
África do Sul. A última vez que Mandela apareceu em público foi há mais de
três anos, na cerimônia de encerramento dos jogos da Copa do Mundo de 2010,
mas sua presença está por toda parte. A imprensa vem beatificando Mandela…
bobagem. Para o partido do governo, CNA, todas as leis da época do apartheid
são compreensivelmente repulsivas, exceto quando podem ser usadas para
fortalecer o próprio partido, proteger seus políticos ou acobertar seus
crimes. Poucos param para pensar se ele foi de fato um super-homem
infalível. O fato de não conseguirmos discutir e debater com visão crítica
suas ideias, ações, sucessos e fracassos em vida, constituiu um desserviço
para Mandela. Muitos jovens também começaram a ver Mandela de modo mais
desapaixonado, especialmente a chamada geração dos nascidos em liberdade,
que apenas conheceram a democracia e não têm a gratidão e a benevolência da
geração mais antiga com seu ex-presidente. Os que nasceram em liberdade
sentem-se desencorajados diante da desigualdade existente no país. A taxa de
desemprego entre os jovens é de 71%, o sistema de ensino quebrado e falta
assistência médica e habitação adequadas. Estão enfurecidos com o número
assombroso de crimes, frustrados por viver na pobreza eterna. Naturamente,
nada disso foi culpa de Nelson Mandela, mas também não é culpa da juventude
sul-africana. A verdade é que Mandela jamais governou de fato a África do
Sul como presidente. Desde o início do seu único mandato, em 1994, ele
delegou todas as tomadas de decisão ao seu vice, o futuro presidente Thabo
Mbeki. O papel de Mandela era necessário, tranquilizando a África do Sul e
o mundo de que a transição do apartheid para a democracia fora feita com
sucesso, incentivando o turismo e o investimento internacional. Para os
ativistas, o maior pecado de Mandela foi não se manifestar enfaticamente
sobre a epidemia de AIDS, que danificou o país nas duas últimas décadas
provocando milhões de mortes. Nada mal comparado com o atual presidente,
Jacob Zuma, com 783 acusações de ligações com o crime organizado, fraude e
corrupção. Ele fez ameaças táticas à Constituição da África do Sul, à mídia
e ao Judiciário. Recentemente aplicou US$ 28 milhões dos contribuintes na
compra de uma luxuosa residência para ele e sua grande família. Talvez a
morte de Mandela provoque uma avaliação compassiva sobre como está a África
do Sul hoje, onde ela deveria estar, e como chegar lá. A esperança numa
África do Sul pós-Mandela é de que os líderes mais jovens consigam ter voz
novamente. É triste que seja preciso a morte de Mandela para isso se tornar
possível.