DILMA E O FIM DA CLASSE MÉDIA

Getúlio Vargas, líder da primeira corrente populista bem-sucedido na
política nacional, era um abastado proprietário rural, namorou o
nazi-fascismo com a mesma desfaçatez com que fez gestos simpáticos à
esquerda e manobrava os cordéis da política distribuindo benesses a coronéis
regionais e líderes sindicais. Ademar de Barros, e cuja linhagem se
assemelhava a Paulo Maluf e Orestes Quércia, era esperto o suficiente para
saber que o brasileiro da classe média é pragmático e apolítico a ponto de
conviver passivamente com alguma leniência com a corrupção, desde que seus
interesses sejam atendidos. Jânio Quadros, a cuja linhagem de populismo se
assemelhava a de Fernando Collor, instigava no eleitorado certo gosto pela
emoção e pela aventura com seu discurso empolgante e de uma lógica
superficial e aparente. Todos eles e o ex-presidente Lula namoravam e
cativavam a classe média para seduzir o voto das classes baixas. Na última
eleição presidencial, a então candidata Dilma Rousseff dividiu o Brasil em
dois segmentos; o País “dazelites” e “dosmizeráveis”. À medida que a Dilma
que é egressa da classe média, foi confirmada nossa presidente, ficou
comprovado que valeu a pena sua estratégia de deixar a classe média pela
primeira vez de fora do jogo político no Brasil. Até esta eleição, tinham
como fundamental o papel exercido pelos chamados “formadores de opinião” do
segmento da classe média brasileira, para o êxito de qualquer líder político
com pretensões de vencer disputas eleitorais. Dilma foi treinada na escola
de Lula, atrelada às tetas do Estado, engendrada por Getúlio. Aprendeu com o
Lulismo, o Ademarismo a duvidar do êxito do discurso anticorrupção nos
segmentos mais pobres e com os erros do Janismo, a assegurar uma boa base
partidária de apoio sem, contudo, nunca se submeter a ela. Como todos seus
antecessores, no seu primeiro mandato, elegeu-se com o apoio de parcela
importante da classe média. Mas a inexistência de equipe à altura da mística
disseminada por Dilma, e a cultura da “boquinha” levada a extremos,
produziram uma mistura de incompetência gerencial, descalabro público,
escândalos diversos, corrupção generalizada e cinismo sem limites na má
destinação do dinheiro público. No comando de uma equipe de governo que
“vira e mexe” se vê acusada de protagonizar episódios “cabeludos”, a
populista chefona petista em seu segundo mandato, se vê obrigada a dar uma
guinada de 180 graus no discurso do monopólio da ética, substituindo-o pelo
da indecência. Passou a usar a mistificação da invenção da roda, traduzida
no “nunca na história desse País”. Foi aí nessa ocasião que Dilma virou as
costas para a classe média colocando-a em extinção.