O verbete “fundamentalismo” passou a ostentar um sentido pejorativo. Os dicionários o traduzem como o movimento religioso e conservador, nascido nos Estados Unidos no início do século XX, que enfatiza a interpretação literal da Bíblia como fundamental à vida e à doutrina cristãs. Mas o conceito ampliou-se. Fundamentalismo passa a representar qualquer corrente, movimento ou atitude, de cunho conservador e integrista, que enfatiza a obediência rigorosa e literal a um conjunto de princípios básicos. Nessa concepção, pode ser também chamado de integrismo.
Quanto ao fundamentalismo religioso, o próprio Papa Francisco o desautoriza a cada dia. Surpreende com sua generosa compreensão do mundo, com o contínuo aggiornamento da Igreja, a retomar o espaço perdido no obscurantismo, no fanatismo e num radicalismo que afugenta os fieis com eficiência maior do que os repelentes nos livram do mosquito da dengue.
Pois o ambiente jurídico é bastante propício à germinação e desenvolvimento de versões fundamentalistas de teses as mais variadas. Os Romanos já deixaram a lição atualíssima de que “summum ius, summa injuria”. Ou seja: o excesso de direito fulmina o direito. Vira injustiça.
Mesmo assim, é fértil o cultivo de visões de mundo que enxergam o direito como penitência, como cilício, como castigo. Assim o exagero na utilização da privação de liberdade, mesmo quando se torna evidente e notório que a prisão é um mal e que não recupera, mas extermina qualquer possibilidade de regeneração de um ser que se desviou do caminho do bem.
É óbvio que há indivíduos que não podem deixar a prisão. Mas a maioria não poderia nela entrar. Aí, serão alvo fácil das facções, se tornarão revoltados, irrecuperáveis.
Também o descompromisso com o resultado, a busca de um perfeccionismo inviável no momento em que tudo se judicializou, oferece a discutível opinião de que mais vale uma sentença perfeita, elaborada após meses de reflexão, do que responder – ainda que de forma imperfeita – a centenas de reclamos que as partes estão a esperar com aflição, angústia e crescente sofrimento.
Quando encontraremos o equilíbrio para evitar os polos antagônicos que só enfraquecem o universo Justiça?