Encantaram-me três espaços museológicos em recente visita. O museu do oratório, em Ouro Preto, o museu de Sant‘Ana em Tiradentes e o Museu de Arte Sacra em Mariana. Todos em Minas Gerais, no circuito das cidades históricas.
Os dois primeiros derivam de uma generosa iniciativa de Angela Gutierrez. O museu do oratório guarda o testemunho da fé brasileira. Como a própria criadora assinala, “em Minas Gerais, o oratório simboliza ainda a gratificação da fé, pelas andanças perigosas dos aventureiros, acompanhando-os com a sua bênção e indispensável patrocínio. O certo é que esses objetos de fé, hoje escassos, ocuparam as íngremes montanhas, tornearam rios, produziram vilas, cidades, aglomeraram comunidades em torno da espiritualidade triunfante da Contra-Reforma”.
Houve recuperação da antiga casa do Noviciado do Carmo e é um ambiente de primeiro mundo, assim como o museu de Sant‘Ana, com suas trezentas imagens da mãe de Nossa Senhora, avó do menino Jesus, esplendorosas algumas, toscas outras. Mas todas evidenciando a religiosidade do brasileiro, principalmente nos séculos XVII e XVIII.
Louvável e, infelizmente, pouco disseminada a inspiração de Angela Gutierrez. Poderia guardar consigo o tesouro amealhado em contínuas viagens, verdadeira prospecção histórico-afetiva pelos confins dos rincões pátrios. Preferiu compartilhá-los e deixar à visitação dos interessados essas verdadeiras relíquias.
Emociona percorrer as moderníssimas instalações de ambos os museus por ela criados. Aliam a tradição ao que há de mais contemporâneo. Permitem consulta virtual a todo o acervo, com detalhes sobre as peças. Ouve-se, na coleção de Sant‘Ana, o relato sensível da “presença invisível” de uma imagem que havia partilhado dos sete partos de sua dona e que a insensibilidade do marido venderia junto com o acervo da antiga velha mansão a ser demolida.
Lembrei-me da “Frick Collection” de NY, outra mostra de sábio compartilhamento de tesouros que não podem ser levados para outra esfera e que só valem quando apreciados pela posteridade. Tanta gente poderia fazer o mesmo e prefere juntar, guardar, esconder, na vã ilusão de que tudo lhes pertença. Quando o destino de cada um de nós é se tornar pó. Inevitavelmente. Seja por processo natural, seja pela combustão, para os que preferirem o crematório.