QUANTO SUPORTARÁ NOSSO PLANETA

O explosivo aumento da população mundial e o seu crescente nível de consumo
estão levando a humanidade a testar a capacidade de suporte do nosso
planeta. No reino animal, o tamanho da população é determinado pela disponibilidade de alimentos, o que evita automaticamente a superpopulação.
Por sua vez, o Homo Sapiens tem a seu favor o desenvolvimento tecnológico,
de que os animais não dispõem, e até agora – após mais de 5 mil anos de
civilização – conseguiu vencer os desafios da exaustão dos recursos
naturais, doenças e a deterioração do meio ambiente. Existem, contudo,
civilizações que não conseguiram fazê-lo – como a da Ilha da Páscoa e
algumas da Península de Yucatán – e desapareceram por causa da exaustão dos
recursos naturais. O exemplo mais marcante de sucesso na superação dos
limites da capacidade da Terra foi a demonstração de que as previsões de
Malthus, no século 19, não se realizaram. O argumento de Malthus era de que
o crescimento populacional não era acompanhado pelo crescimento da área
agrícola e da produção de alimentos, o que levaria a uma crise de
conseqüências imprevisíveis. A tecnologia agrícola na Europa nos dias de
hoje elevou de tal forma a produtividade agrícola que a área destinada a
estas atividades se estão reduzindo gradativamente. Crises anunciadas no
início do século 20, de que haveria também uma exaustão de muitos recursos
minerais, como o cobre, não se materializaram, porque novos materiais – já
existentes ou produzidos artificialmente – os substituíram. Um dos grandes desafios dos dias de hoje é a exaustão dos recursos hídricos, e já é notória
a falta de água em algumas regiões do globo, sobretudo na África. Apesar de
ser um problema gravíssimo, ele tem caráter local, mas o que estamos fazendo
com a atmosfera – literalmente “envenenando-a” – tem um caráter global mais
amplo. O uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), no
qual se baseou o desenvolvimento econômico do século 20, está lançando na
atmosfera enormes quantidades de dióxido de carbono, alterando sua
composição e provocando o aquecimento do globo terrestre, que já está
levando a sérios problemas climáticos. Alguns dos efeitos destes problemas,
como o derretimento das calotas polares ou o aumento do nível do mar, já são
visíveis. No fundo, a divisão de responsabilidades vem sendo utilizada como
uma desculpa para a inação e tem dado origem a recriminações mútuas, nas
quais o combate ao aquecimento global se acabou tornando mais um elemento no
confronto Norte-Sul. A maioria dos países do Sul foi colônia dos países do
Norte durante séculos e não se desenvolveu, não tendo, portanto, acesso a
tecnologias mais avançadas. Existem círculos, tanto no Brasil como na Índia,
Rússia e China, que consideram a adoção de metas uma imposição dos países
industrializados para impedir o seu desenvolvimento, e que deve ser
rejeitada como parte de uma conspiração. Esta é uma visão incorreta, uma vez
que estabelecer metas (e tentar cumpri-las) é o que faz o tempo todo o
governo e o setor privado. Aliás, o Brasil fez isso há décadas, quando
decidiu que uma porcentagem fixa de gasolina seria substituída por álcool de
cana-de-açúcar. Outro exemplo é o que a Califórnia está fazendo, conseguindo
reduzir a emissão de gases de efeito estufa, que agora é 50% menor que os
Estados Unidos como um todo. Nem por isso o Estado da Califórnia deixou de
ser um dos mais ricos daquele país. É evidente, portanto, que apenas um
esforço redobrado poderá reverter o atual processo de “envenenamento” da
atmosfera, o que significará reforçar, estender ou substituir o Protocolo de
Kyoto. Neste novo período, todos os países industrializados e os países em
desenvolvimento terão de participar – aceitando metas compulsórias ou
voluntárias -, e há muitas medidas que podem ser tomadas sem implicar custos
muito elevados e sem impedir o seu crescimento econômico e o seu
desenvolvimento. Importante definir medidas duras, pois não sabemos quanto o
planeta Terra ainda suportará.