A trajetória do Brasil nesta década e a Educação

O Brasil de hoje é um país cheio de perspectivas, que se reencontrou com as suas potencialidades, que pensa o seu futuro. O que vamos ser quando crescermos?

Parece simples e óbvio, mas não é bem assim. Primeiro, porque vivemos duas longas décadas de crise, em que os grandes problemas do país se intensificaram, como aconteceu com as profundas desigualdades sociais. Inflação, estagnação econômica, abertura brusca ao comércio internacional em setores incapazes de competir, ausência de instituições estáveis, violência, incapacidade de financiamento dos sistemas de saúde e de educação, déficit de moradias, fome. Tantos problemas que estabilidade e crescimento não apareciam nem no horizonte distante.

Depois, porque o país vive hoje um momento completamente diferente, em que a estabilidade da economia, a democracia, a legislação avançada em muitos aspectos, as instituições do Estado e a inclusão social são alguns dos ingredientes de uma receita que mudou o horizonte, mas ainda assim persistem muitos problemas de antes. Sim, o céu está parcialmente azul, mas certas nuvens ainda devem nos preocupar.

E surgiram outros problemas novos. O mais importante é a radicalização da mudança do mundo em direção à economia do conhecimento, que define uma nova estrutura para toda a sociedade.

Diante das carências que ainda não resolvemos e dos desafios do futuro que não podemos adiar, é preciso compatibilizar as agendas. Superar ao mesmo tempo problemas que se arrastam do século XIX ao século XXI.

Um dos maiores passivos do Brasil é a baixa escolaridade da população. As políticas de educação pública para toda a população são muito recentes no país, e apenas na década de 1990 o acesso ao ensino fundamental alcançou cerca de 95% das crianças. Os nove anos obrigatórios de Escola definidos na Constituição Federal mostraram ser absolutamente insuficientes para formar a população para os tempos atuais. E é bom dizer que são muito pouco até em comparação com os nossos vizinhos da América do Sul. Ainda mais em relação aos países mais avançados. Por isso, uma reforma instituiu doze anos de Educação Básica obrigatória, determinando responsabilidades para o Estado, mas também para as famílias e todos os demais setores da sociedade.

A qualidade da educação básica é um problema ainda mais grave. Neste item, estão combinados alta repetência, evasão escolar, desajuste entre idade e ano escolar, baixo rendimento dos estudantes, incapacidade de desenvolvimento de competências muito elementares, como a leitura e a interpretação de informações. Diagnósticos sobre a qualidade da educação básica são fartos. Falta experiência histórica com políticas de longa duração cujo objetivo seja enfrentar de vez a questão.

Sem educação básica de boa qualidade, as nuvens escuras tomarão conta do céu e ocultarão de novo o horizonte. É tarefa para toda a sociedade, ao longo de toda uma geração. Por isso, não podemos esperar nem mais um pouco.

E então, o que o Brasil será quando crescer?