Ainda existe muita injustiça no mundo. Não sei como os pósteros chamarão nossa era. Mas não poderão louvar uma civilização que acaba com a natureza, que produz lixo à vontade, que polui água, ar, mar e terra. Uma sociedade que convive com pessoas ocupando as ruas, que pede pena de morte e redução da maioridade, que tranca indiscriminadamente as pessoas, impulsionando a indústria de construção de presídios.
Uma sociedade que acha normal a corrupção, que se serve da propina para conseguir benefícios, grandes ou pequenos. Um povo que perde a batalha contra a droga e condena a sua juventude à morte precoce, por não oferecer perspectivas reais de ser feliz. Quem não se indigna com uma educação ineficiente, com aulas sem atrativo para uma infância/juventude cada vez mais mal educada, quem perdeu a polidez, o berço e as posturas, talvez não enxergue o retrocesso que as fotos comprovam. O que já fomos, em cotejo com o que somos.
Nenhum desses problemas será resolvido por milagre. Mas jamais serão resolvidos se perdermos nossa capacidade de indignação. Se um grupo ao menos não os considerar ultrajantes e solúveis. E se não resolvermos encarar o desafio de humanizar a humanidade.
É uma questão que envolve fé. É óbvio que a crença é algo admirável. Mas para mudar o mundo, é preciso um novo tipo de fé. A fé de que os seres humanos têm capacidade de se preocupar com os sofrimentos alheios e que, por isso, mostrar a verdade é a receita para fazer as pessoas agir. Há coisas que precisam ser bem conhecidas para serem detestadas. Cada um de nós deve tirar a venda dos olhos dos que não enxergam ou não querem ver.
Encarar a realidade como ela é e como poderia ser, mostrar a infâmia de uma civilização que não se incomoda com os valores, que encara insensível tudo o que acontece de ruim – e com a nossa conivência – é obrigação de cada pessoa que não perdeu a sensibilidade. É impossível não ser tomado de “santa ira” ao prestar atenção àquilo que ocorre diante de nossos olhos. Uma Nação que teria tudo para ser exemplo e é motor de tristeza para a maioria de seus filhos.
Enquanto houver indignação haverá esperança. Esta só morrerá quando o último dos homens se convencer de que a humanidade não tem remédio.