APAGÕES DE ENERGIA

As possíveis causas dos últimos apagões de energia têm sido amplamente
discutidas pela imprensa. A expansão do sistema de hidrelétricas tem sido
feito nas últimas décadas por usinas a fio d’água, isso é, sem reservatórios
de água que mantenham essas usinas em funcionamento, mesmo em períodos de
estiagem. Isso não é culpa do atual governo federal, mas da incapacidade
geral dos governos, desde 1990, de se engajarem em diálogo maduro com os
ambientalistas e os movimentos sociais contrários à construção de barragens
para a formação de reservatórios. O governo Fernando Henrique Cardoso
estimulou esses movimentos e agora pagamos a conta. Hoje os reservatórios
das hidrelétricas estão no nível de 2001, onde ocorreu o grande racionamento
de energia. Teríamos novo racionamento se não tivessem sido instaladas
usinas termoelétricas, que usam gás, óleo combustível e até carvão. O
problema que a energia gerada por elas é muito mais cara do que as
hidrelétricas. Em 2013, o governo federal, em uma atitude populista e
negligente, ofereceu um “desconto” nas contas de energia elétrica de cada
brasileiro, deixando as concessionárias com um deficit orçamentário de cerca
de 20% e a resposta imediata delas foi a paralisação dos investimentos em
manutenção, ampliação das usinas, vias de transmissão etc. O risco de
racionamento não está afastado, pois todas termoelétricas disponíveis já
foram acionadas e se a seca continuar faltará energia, por uma razão
simples, alternativas de geração de eletricidade como usinas eólicas,
termoelétricas queimando bagaço de cana nunca foram estimuladas pelo
governo, no fundo, por motivos ideológicos. Se o governo federal deseja
fazer programas sociais com eletricidade para beneficiar os pobres, deve
fazê-lo na venda, e não na sua geração. Foi isso que o governo Franco
Montouro fez em São Paulo em 1982, estendendo as redes de eletricidade às
favelas e cobrando preços reduzidos dos habitantes dessas áreas, por meio de
subsídios cruzados, em que os mais ricos pagavam tarifas maiores do que os
mais pobres. Para se ter um exemplo, é que menos de 20% do potencial do
bagaço de cana-de-açúcar – que é comparável à potência da Usina de Itaipu –
está sendo utilizado para “tocar” as termoelétricas, por causa da falta de
interesse do governo federal. Os problemas que enfrentamos na área de
energia elétrica não serão resolvidos com medidas intempestivas e
demagógicas e eleitoreiras. De qualquer forma o Tesouro Nacional – ou seja,
toda a população brasileira – vai pagar por ela. Temos agora, além da
Bolsa-Família, uma “Bolsa-eletricidade”, que, aliás, vai beneficiar grandes
indústrias eletrointensivas. Soluções para a crise atual existem, mas
precisamos abrir uma grande discussão.