Aposentar é morrer?

O Brasil tende a ser uma República de aposentados. Pessoas de todas as idades se aposentam. Um paradoxo é o de que os poucos que não gostariam de se aposentar são compulsoriamente desligados do serviço público.
Mas não se estanca a contínua defecção daqueles que, mesmo tendo idade e condições físicas e mentais, preferem partir para o chamado “ócio com dignidade”.

Mas a vida do aposentado não é aquela maravilha. Uma pesquisa do IBGE realizada em 2013 constatou que 46% dos beneficiários do INSS dependem de parentes para custear suas despesas pessoais.

25% são obrigados a exercer alguma outra atividade para complementar sua renda.

28% sobrevivem de caridade. Qual a percentagem de quem consegue se manter na mesma condição de quando se encontrava na ativa? Somente 1%. Isso mesmo: um por cento. Um em cada cem aposentados consegue subsistir com os proventos da aposentadoria.

Isso mostra quão vulnerável é o sistema previdenciário no Brasil. Um sistema deficitário, pois é crescente o número dos que já não trabalham e reduzido o número dos que contribuem para realimentar a Previdência.

Nutri a esperança de que a chamada “compulsória” cederia ante argumentos econômicos. Um dia chegará e não haverá dinheiro para pagar os proventos e as pensões. Mas a irracionalidade atende ao reclamo dos jovens, que acreditam continuar moços para sempre.

A compulsória, também chamada “expulsória“, é objeto de escárnio. Tanto que a tentativa de se prolongar a vida ativa do funcionário público é chamada “PEC da bengala”.

Diante desse quadro, resta a todos se preparar para a aposentadoria. Existe até um programa que tem esse nome: PPA – Preparação Para Aposentadoria. Ele começa com educação financeira. A aposentadoria deve ser sustentável. Deixar o trabalho é o momento que reclama visão real do futuro.

Fala-se em depressão pós-aposentadoria, porque há pessoas que não se prepararam. Embora se tente propagar que “há vida depois da aposentadoria”, a realidade mostra que muitos se sentem perdidos.

A depressão é uma doença grave. Aposentar-se não precisa significar uma abreviação para a morte. Pode ser apenas uma outra página existencial. Desde que saibamos enfrentar o “day after”.