Até tu, Harvard?

A Universidade de Harvard é conceituada como uma das melhores do Planeta. Foi fundada em 1636, tem 20 mil alunos, recebeu 46 Prêmios Nobel por seus ex-alunos, um dos quais Al Gore, que recebeu o Nobel da Paz em 2007. Por lá passaram sete presidentes dos EUA, de Barack Obama a John F. Kennedy, de Theodore Roosevelt a Franklin Roosevelt. Sem falar em presidentes e primeiros ministros de Israel, Chile, México, Colômbia e Costa Rica e personalidades como Mark Zuckerberg, Bill Gates, Ban Ki-moon, T.S. Elliot, Norman Mailer e Natalie Portman.

Pois com toda essa glória, não é que Harvard se vê na contingência de expulsar ou suspender 100 alunos, cujos diplomas podem ser cassados por fraude? Ou seja, nem Harvard se livrou da “cola”, da fraude com que os alunos procuram driblar os critérios avaliatórios ainda em voga.

 É verdade que esse curso, chamado de Introdução ao Congresso, é um dos mais fáceis da Universidade. Vai na linha de treinar funcionários públicos ou futuros candidatos a ocupar um dos postos da democracia norteamericana. Talvez não seja levado muito a sério pelos professores mais circunspectos e tradicionais. Tanto que as provas eram feitas em casa e alguns mestres adiantavam o seu critério de atribuir notas a todos, desnecessária a presença em classe.

 Todavia, o que pega é a crença ingênua de que os estudantes têm uma ética entranhada, que os impede de trair a confiança do docente. Este entrega as provas para serem feitas em casa, exatamente porque confia nos alunos. E estes, segundo os que pretendem cassar o diploma, não honraram o crédito moral recebido. Os estudantes confessam que alguns colegas fizeram coisa proibida, como trabalhar juntos para encontrar respostas, aceitar conselhos e copiar textos de ex-alunos e outras práticas. Mas não se consideram errados. Acreditam merecer o diploma.

 Há quem conteste a rudeza com que se execra a cola. Na verdade, seria um mecanismo de cooperação, regra para a vida, que a escola abomina. Tudo está sendo rediscutido. Os critérios de avaliação parecem cambalear, pois o que interessa não é saber se o aluno decorou, se tem boa memória, se tem condições de armazenar informações. Mas o essencial é formá-lo de maneira a que o aprendizado se reflita em êxito pessoal. Ele se tornou uma pessoa melhor? Está habilitado a enfrentar as vicissitudes da vida? O que a educação brasileira responderia a tais indagações?