O economista Roberto Macedo obteve de seu colega Raul Velloso, um dos maiores especialistas em finanças públicas do Brasil, informações que todos intuíamos, mas que agora têm o peso científico da veracidade. Estamos nos aproximando dos 60 milhões de brasileiros que são sustentados pela folha de pagamentos da União. Enquanto isso, o investimento recebeu acréscimo de 0,1% do PIB. Mísero, sofrível, à evidência insuficiente para criar empregos e melhores perspectivas para a economia capenga deste Brasil de benesses.
Ninguém é contra a redução da pobreza e das desigualdades sociais. Mas talvez a concepção de como se implemente essa política pública não esteja correta. É que a doação, pura e simples, de dinheiro para quem precisa, não anima ninguém a se esforçar. Para que estudar, para que lutar, para que se sacrificar, se é só passar numa agência de instituição financeira estatal e apanhar meu dinheirinho sem qualquer contraprestação?
Um dado que talvez os governantes não levem na devida conta. Segundo o IBGE, o desemprego nas seis regiões metropolitanas atingiu 5% em março último, o nível mais baixo para o mês desde o início da pesquisa em 2002. Mas algo está errado. Isso não significa pujança da economia nacional. Pois a geração líquida de empregos foi próxima a zero.
E a PIA – População em Idade Ativa não estagnou no período, mas cresce entre 1% e 1,5% ao ano. O que ocorre é que a população desistiu do mercado de trabalho. Por que isso? Porque para muitos é mais fácil procriar e obter bolsa família do que trabalhar. Para outros, é mais lucrativo ficar na fila do seguro desemprego – são 7.784.154 brasileiros a receberem tal benefício – do que se submeter a horário, disciplina, hierarquia e produtividade.
Outra observação que não tem sido cogitada é que a concessão de bolsas, muito além do desestímulo à luta, nutre um mercado eleitoral cativo. Não parece correto que os beneficiários de uma política de governo – não de Estado – possam votar como os não beneficiários. Afinal, estão sustentados pela folha de pagamento do governo, não têm isenção, mas farão aquilo que o benfeitor mandar.
Talvez para compensar os desassistidos, fosse interessante pensar em uma “bolsa paciência”, para achar que tudo isso é normal e não compromete um projeto consistente de formar uma cidadania apta a discernir e a protagonizar seu próprio destino.