Este setembro – que traz neste domingo a primavera – trouxe também mal-estar recíproco entre as duas meganações americanas: o Brasil e os Estados Unidos, eis que quase nada são flores na chamada diplomacia…
O jornal O Globo contou que foi contado pelo jornalista “carioca” Glenn Greenwald, a quem o espião Edward Snowden contou, que o Tio Sam faz espionagem no Brasil sem contar pra ninguém.
Como se sabe, Snowden – hoje protégé de Putin, usado pelo presidente russo pra dar esporada no mustang americano, cujo similar nacional cavalga pelas pradarias da Sibéria sem camisa pra se solidarizar com as meninas do Femen – é aquele técnico que trabalhou na Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, em inglês).
Segundo a espionagem do Snowden, a do Obama consiste em monitorar os telefonemas e e-mails da Dilma e da Petrobrás.
A presidente brasileira reagiu como se tivesse sido pega de calça curta e, de olho no seu eleitor tupiniquim, consultou o mentor Lula e o marqueteiro Santana, e se recusou a dançar em traje de gala com o presidente americano, em visita oficial previamente marcada para outubro, agora cancelada via adiamento em comum acordo.
Aparentemente, tal cena romântica poderia revelar fraqueza e submissão da mulher-presidente, e a alegação oficial de invasão de soberania funciona bem como cortina de fumaça pra encobrir os enormes problemas politicos que Dilma tem à sua frente – especialmente os ainda baixos indices de popularidade – a serem superados pra viabilizar um eventual segundo reinado.
Há também um incômodo foco popular no chamado Mensalão, e na caça ao voto – assim como ao pato – camuflagem é fundamental.
O Brasil tem nos Estados Unidos o seu segundo maior parceiro comercial, depois da China, e, apesar da enorme influência progressista dos americanos no way of life dos brasileiros, as relações entre os dois gigantes gentis nunca foram muito fraternais.
Fora dos campos de futebol, do samba e da bossa-nova, os americanos sempre demonstraram reservas em relação aos brasileiros.
O próprio ex-presidente Lula, quando ainda era “o cara” do Barack e suscitava a inveja do Roberto Carlos, a ponto deste afirmar que esse cara era ele, contribuiu bastante pra azedar o leite-de-rosas, quando manifestou apoio ao iraniano Ahmadinejad e seu plano nuclear.
Entretanto, ambos os países têm muito a aprender com o entrevero:
No curto prazo, a xeretice descoberta pode ter custado aos americanos a perda do negócio de 5 bilhões de dólares que seria a venda de 36 jatos Super Hornet da Boeing à força aérea brasileira; com o dano politico, a escolha pode desviar para o Rafaele da francesa Dassault ou para o Gripen NG da Saab sueca.
Arrisca também os negócios petrolíferos de empresas americanas, especialmente nas bacias do pré-sal.
No longo prazo, o ocorrido revela que o Brasil – que, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) possui uma das mais vulneráveis e desprotegidas infraestruturas de Internet – tem ainda mais a perder se sucumbir à tentação de voltar ao protecionismo retrógrado da década de 80, quando se tentava barrar a importação de computadores pra favorecer uma suposta indústria nacional…
Como ocorreu com o terceirizado Snowden e acaba de ocorrer no tiroteio num prédio da marinha em Washington, onde o ex-marinheiro Aaron Alexis – contratado como consultor de TI – fuzilou 12 funcionários, os americanos tém mostrado mais dificuldade em detectar ameaças em sua própria casa do que bisbilhotar conversa alheia.
Alexis não passaria nem no programa Ficha Limpa brasileiro, tamanha era a quantidade de “alterações” nos seus registros militares; mesmo assim, mereceu baixa honrosa quando deixou a marinha, caso, evidentemente, muito mal resolvido na “land of the braves”, que tem pavor do confronto individual que a prevenção – ah, a invasão de privacidade! – provoca no solo americano entre seus pares…
A comunicação por satélite – e a Internet – veio pra ficar, sob pena de voltarmos às cavernas, e a monitoração eletrônica tem produzido muito mais bem do que mal, no que se refere à proteção da sociedade contra o indivíduo mal-intencionado.
O Brasil, solo fértil pra todo tipo de cultura, incluindo de maracutaia, alopração e crime hediondo, não conseguirá se furtar – se pretende se civilizar – aos benefícios do progresso na era pós-Sputinik.
Só tem que aprender a se proteger dos efeitos colaterais, tanto maiores quanto mais se expuser, ter a esconder e deixar todo o risco de ser pego ao “Deus-que-me-livre! “…