Você sabe o que é “geratividade”? É uma palavra nova, um neologismo inventado pelo psicólogo Erik Erikson. Geratividade significa dar sem a necessidade de receber nada em troca. É um signo da sabedoria. Por isso é que existem poucos sábios no mundo. O normal é o interesse na obtenção de retorno. A reciprocidade forçada. O “é dando que se recebe” na sua versão fuleira.
A sabedoria inclui três eixos principais: cognição, reflexão e compaixão. A função cognitiva se desacelera com o envelhecimento. Mas o velho que estudou a vida toda tem mais informações em seu cérebro. Sua experiência o auxilia a se servir daquelas mais úteis. Por isso ele compensa a deficiência cognitiva com a reflexão mais atilada.
Já a compaixão é sentimento que habita mentes jovens e maduras. Há velhos insensíveis, assim como jovens incapazes de se comoverem. Quem tiver os três eixos – cognição, reflexão e compaixão – saberá envelhecer adequadamente. Até mesmo pessoas severamente incapacitadas têm condições de encontrar sentido, contentamento e aceitação da vida.
Um obstáculo à sabedoria é o pensamento “não suporto quem sou hoje, porque não sou mais quem eu era”. É preciso ser sábio para aceitar a piora na aparência, o dilúvio no desempenho sexual, o fracasso das capacidades. A irritante perda da memória. A sabedoria é também reduzir o caráter autocentrado. É se esquecer um pouco e abrir-se para os outros. Pessoas sábias atentam para múltiplos pontos de vista e, portanto, tendem a ser mais tolerantes.
A velhice ideal seria aquela em que se adquire suficiente convicção da própria completude, suficiente a afastar o desespero que a desintegração física e mental gradualmente acarreta. Aceitar-se com leveza e humor é quase completar a trajetória sem lamentos. Lembrar que a alternativa a envelhecer é ruim: é morrer jovem.
Tudo isso me vem à mente quando sinto o vazio de tantas perdas jovens. Meu irmão João René, que partiu há 25 anos e não há dia em que não me lembre com saudades dele. Meu grande amigo Gilberto Fraga de Novaes, que já faz quase 9 anos partiu em uma festa na qual se divertiu. Minha querida Cláudia Maria de Lucca Parise, companheira da juventude e da maturidade. Dom Joaquim Justino Carreira, tão sábio e tão precocemente levado. É preciso ser sábio para aceitar a morte próxima, como aprendizado à própria morte.