CAPITAL X TRABALHO

A desigualdade no interior das empresas cada dia aumenta mais. As remunerações são muito altas para os executivos bem-sucedidos e muito baixa para os trabalhadores. O melhor exemplo é o Wal-Mart, a maior empresa em faturamento do mundo, que utiliza alta tecnologia e paga próximo da linha da pobreza ao grosso de seus funcionários. Aponta-se que cada vez mais existe, por parte dos empregados, propensão ao alcoolismo, ao divórcio e aos problemas de saúde. Na verdade, muitos empregos braçais na área de serviços deixaram de ser atraentes para os jovens e essas tarefas são executadas por absoluta falta de alternativa. Hoje em dia  constatasse que a maior aspiração dos trabalhadores temporários é que alguém os queira em caráter permanente. A gratificação postergada em nome de objetivos pessoais de longo prazo sempre foi a mola propulsora de “ética protestante do capitalismo” de Weber. A erosão da ética protestante não se dá pela contaminação de raças latino-americanas “inferiores”, mas pela própria lógica do sistema que destrói lealdades. A geração anterior pensava em termos de ganhos estratégicos de longo prazo, ao passo que para a atual só sobram pequenas realizações imediatas. As pessoas pertencentes às classes média e alta ainda podem dar-se ao luxo de correr esses riscos  e viver essas tensões à espera de uma boa oportunidade. Mas os jovens de classe baixa são muito mais dependentes das relações estáveis por terem uma rede de proteção frágil e poucos contratos e conexões importantes. Como se vê, o pujante e vencedor capitalismo global tem seu calcanhar-de-aquiles na má qualidade da mão de obra e na pouca quantidade dos empregos que gera. Já no Brasil temos como principal problema a falta de capacitação, essa sim herança maldita que vem sendo sistematicamente mal cuidada por todos os governos. Em recente reunião entre o Ministério do Trabalho e empresários, divulgaram que nosso déficit de mão de obra especializada soma 15 milhões de trabalhadores, onde deveremos capacitar no mínimo  3 milhões deles por ano. Toda a projeção de desenvolvimento brasileiro dos próximos 10 anos estará ameaçada sem uma política específica para tal.