CARANDIRÚ, O CRIME VENCEU!

A intervenção da Casa de Detenção de São Paulo ou “Massacre do Carandiru” como ficou conhecido
mundialmente, ocorreu em 2 de outubro de 1992, quando uma grande rebelião de detentos causou a morte de 111 deles, pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Na semana passada, depois de mais de vinte anos, findou-se o julgamento com veredito a 26 policiais militares acusados da morte de pelo menos 15 dos 111 detentos mortos.

Absurdamente foram condenados pelos jurados 23 policiais, salvos três que estavam em outro pavimento, desarmados. Ainda mais absurdo juridicamente o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o ex-secretário de segurança pública da época Pedro de Campos, não terem se quer sido denunciados. A valorosa Polícia Militar do Estado de São Paulo foi traída. O que querem justificar? A quem querem justificar? Na verdade julgo que ninguém de fato saiba o que ocorreu naquele inferno, inferno esse criado pelo estado, estado esse que é pago pelos nossos impostos para educar, reeducar, dar segurança etc. Os policiais que ali estavam não eram criminosos, os amotinados eram criminosos. Policiais são pessoas como nós, têm família, sonhos, fraquezas, mas acima de tudo cumprem ordens. Os comandantes em campo receberem ordens para invadir a Casa de Detenção do secretário de segurança pública Pedro Campos, autorizadas pelo ex-governador Fleury. Não foram os soldados que deram as ordens de invasão. Treinados e acostumados em missões de extrema tensão, não atiraram a esmo, defenderam-se, defenderam suas famílias, nos defenderam. Caso a justiça não reveja em segunda instância essa anomalia, estará provado que o crime compensa. Com que ânimo nossos valorosos militares se interessarão em cumprir com seus deveres? Criminosos de todas as idades atiram para matar, e os policiais não podem se quer se defender?

No momento que a sociedade descobre que temos que rever nossos valores e rediscutir a maioridade civil e criminal, percebo que não é só isso que devemos rever. De que lado o Estado está? Não podemos dormir com Deus e passar o dia com satanás. Direitos humanos dos marginais são sempre preservados, das pessoas de bem ficam em segundo plano. Em 1994, o valoroso Cardeal Aloísio Lorscheider foi tomado como refém por detentos do Instituto Penal Paulo Sarasarte em Fortaleza, ficou quase 24 horas em poder dos amotinados. Corajoso, pediu para ser o último a ser libertado. Na ocasião disse que rezaria pelos sequestradores, poerém tenho certeza que depois de ter vivido um motim cem vezes menor que do Carandirú, reformou seus conceitos de direitos humanos. Deus conceda que na apelação não se confirme essa absurda injustiça.