CARANDIRÚ NÃO ERA IGREJA

O julgamento da intervenção da Casa de Detenção de São Paulo ou “Massacre do Carandiru”, como ficou
conhecido mundialmente, terminou com mais 15 policiais militares condenados
a 48 anos de prisão cada um, em regime fechado. Eles foram considerados
culpados por quatro dos 111 homicídios ocorridos na Casa de Detenção, em 2
de outubro de 1992. Com a última sentença proferida, o julgamento, dividido
em quatro etapas ao longo de um ano, bateu o recorde de soma de penas
individuais já aplicadas: 20.876 anos para 73 PMs. Todos vão recorrer em
liberdade. Absurdo o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o
ex-secretário de segurança pública da época Pedro de Campos, não terem se
quer sido denunciados. A valorosa Polícia Militar do Estado de São Paulo foi
traída. Na verdade julgo que ninguém de fato saiba o que ocorreu naquele
inferno, inferno esse criado pelo estado, estado esse que é pago pelos
nossos impostos para educar, reeducar, dar segurança etc. Os policiais que
ali estavam não eram criminosos, os amotinados eram criminosos. Policiais
são pessoas como nós, têm família, sonhos, fraquezas, mas acima de tudo
cumprem ordens. Os comandantes em campo receberem ordens para invadir a Casa
de Detenção do secretário de segurança pública Pedro Campos, autorizadas
pelo ex-governador Fleury. Não foram os soldados que deram as ordens de
invasão. Treinados e acostumados em missões de extrema tensão, não atiraram
a esmo, defenderam-se, defenderam suas famílias, nos defenderam. Caso a
justiça não reveja a decisão na próxima instância, estará provado que o
crime compensa. Com que ânimo nossos valorosos militares se interessarão em
cumprir com seus deveres? Criminosos de todas as idades atiram para matar, e
os policiais não podem se quer se defender? No momento que a sociedade
discute a revisão da maioridade civil e criminal, percebo que não é só isso
que devemos rever. De que lado o Estado está? Não podemos dormir com Deus e
passar o dia com satanás. Direitos humanos dos marginais são sempre
preservados, das pessoas de bem ficam em segundo plano. Em 1994, o valoroso
Cardeal Aloísio Lorscheider foi tomado como refém por detentos do
Instituto Penal Paulo Sarasarte em Fortaleza, ficou quase 24 horas em
poder dos amotinados. Corajoso, pediu para ser o último a ser libertado. Na
ocasião disse que rezaria pelos sequestradores, poerém tenho certeza que
depois de ter vivido um motim cem vezes menor que do Carandirú, deve ter
reformado seus conceitos de direitos humanos. Deus conceda que na apelação
não se confirme essa absurda injustiça.