Who cares?”

Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal, jogou mais lenha na fogueira de vaidades – aquela da versão modernizada por Tom Wolfe – que assola os envelhecidos “yuppies” da política tupiniquim…

Notoriamente contrário à emenda constitucional que propõe a criação de mais quatro Tribunais Regionais Federais – em sua opinião apenas “resorts” caríssimos e inócuos, pré-destinados a servir mais aos causídicos do que às causas – o ministro desdenhou sobre a promulgação da emenda levada a efeito pelo Congresso na última quinta-feira.

E deixou escapar um “who cares?” do seu tempo acadêmico nos campi das terras do Tio Sam…

A expressão “who cares?” usada por Barbosa – provavelmente dita de forma impulsiva, mais pra se livrar do repórter chato que o assediava num momento inoportuno, como aquele “não me encha o saco!” que não dá pra falar em público – traz mais conotação do que pode parecer à primeira vista.

Traduzida pelo Google – que só trabalha ipsis litteris, e ainda bem! – significa “quem se importa?” em português, mas em ambas as línguas vai muito mais além, passando pelo “e daí?” e chegando às raias do “dane-se!”  em sua pior versão dolosa…

Em outras palavras, a lei das selvas – às vezes até literalmente, como temos visto nos excessos da Funai e sua dubitável pressão pra conseguir cada vez mais terras pra cada vez menos índios – vai ser sempre a mesma entre os civilizados.

A diferença entre o pedinte e o ladrão vai continuar desprezível, eis que vender o chiclete no semáforo ou pedir um copo de água passaram a ser introdução ao assalto.

Afinal, como no mundo animal, roubar a presa do mais fraco ou desatento envolve muito menos risco e trabalho do que conseguir a própria, especialmente aos enfraquecidos pela fome, pela falta de opção mais digna ou até pela dificuldade de separar fome de dignidade e instinto de razão, a qual só tem chance de aparecer depois da comida, da saúde, da roupa, do abrigo e do convívio com os pares, situação que, para muitos, a prisão – extrema ironia! – arremeda melhor que a vida real…

A lei do acesso à informação vai ser – e está sendo! – “adaptada”, e o gigantesco e superfaturado tapete da administração pública, da cobertura ao subsolo, continuará opaco e escondendo muito, tirando vantagem da grande massa distraída e desinteressada nessa tal informação.

É desalentador ao brasileiro mais esclarecido, atuante e bona fide quando o presidente da suprema corte do seu país se insinua impotente ou – pior ainda! – indiferente e cético quanto a dias melhores.

Contudo, convenhamos… É possível acreditar que tudo vai melhorar com simples manobras politiqueiras daqueles que almejam suas próprias vaidades em detrimento de seus deveres?

“Give me a break!”, diria Sua Excelência Joaquim Barbosa, o corajoso ministro poliglota…