Celebrar São Paulo é celebrar a coragem. Desde os primeiros que venceram o desafio de escalar a Serra do Mar, a grande muralha verde que separava a orla do Planalto, até os sobreviventes do século XXI.
Viver em São Paulo exige destemor e audácia. Destemor para enfrentar um trânsito caótico, de uma cidade que se viu mutilada para servir ao ideal automobilístico e deixou desaparecer seus cursos d‘água, suas várzeas, sua flora e sua fauna. Audácia para permanecer nesta insensata concentração de milhões de pessoas, tantas delas ainda sem inclusão no mercado e no banquete capitalista.
Celebrar São Paulo é ter orgulho de sua gente. Dos nativos aos adventícios. De José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, a Bartolomeu Bueno, que não quis ser rei, Fernão Dias Paes, até chegar a Airton Senna e aos anônimos motociclistas mortos no trânsito e transformados em cifras nefastas da contabilidade da morte.
Celebrar São Paulo é ter saudades da garoa, das praças limpas, onde não havia o atestado presente da miséria humana, da polidez e elegância discreta de seu povo, de civilidade e boa educação de berço. Tudo tão em falta no varejo da mediocridade. São Paulo, onde tudo é imenso, a superar todas as previsões e que um dia recebeu a ordem – São Paulo tem de parar – no polo oposto da arrogância do São Paulo não pode parar.
São Paulo não obedece às ordens, nem ao planejamento, pois o seu povo continua bandeirante. Apenas com a multiplicidade de bandeiras, cada qual com seu dístico, sem convergência e sem rumo.
A Justiça continua a funcionar em São Paulo, a despeito da insuficiência crônica de orçamento, atenta às insuperáveis dificuldades postas ao Poder Público numa era de incertezas. A despeito da falta d‘água, da carência de energia elétrica, da imprevisibilidade das manifestações e da generalizada insatisfação que é o sintoma de uma era de abundância de preocupações.
O Tribunal de Justiça de São Paulo, na antevisão dos dias difíceis que viriam, estimulou o home office, os julgamentos virtuais, o resgate da autoestima de todos os que fazem o Judiciário caminhar, ainda que a enfrentar intempéries.
Para amenizar o sofrimento de quem vivencia momentos preocupantes desta metrópole, armou-se da poesia de Paulo Bomfim, o mais emblemático dentre os poetas paulistas e paulistanos, a nos recordar – de forma contínua – que esta insólita metrópole precisa de um remédio urgente: o amor de quem nela vive e de quem não tem o privilégio e o surpreendente milagre de nela conseguir sobreviver.
Feliz aniversário, cidade de São Paulo!