O ‘commander in chief’ de gregos e troianos

A diversidade racial e cultural americana decorre não só do fluxo de fora pra dentro, no êxodo espontâneo-forçado do mundo velho ou pobre para o novo rico mundo, mas também do de dentro pra fora, no interesse oficial em estimulá-la, através de vários programas de legalização do visitante-imigrante, sejam tais programas do tipo caça-níqueis, caça-talentos ou só pra manter a heterogeneidade reinante.

Um bom exemplo desse esforço é o programa ‘Visto-Diversidade’ (Diversity Visa Program) – também chamado de ‘Loteria do Visto’ (Lottery Visa) –  em que vistos de imigrante (o cobiçado Green Card) são concedidos, via sorteio das inscrições recebidas no ano fiscal – em dezenas de milhões – de acordo com cotas concedidas, também anualmente – em dezenas de milhares – a diferentes países. Como se depreende dos números desse programa, é mais fácil um aluno formado em escola pública entrar na USP ou em Harvard …

Os Estados Unidos ainda são, indubitavelmente, o país que mais recebe – e se nega a receber – imigrantes, e tal tema tem, evidentemente, fortissimo apelo emocional junto ao eleitorado. A rejeição ao estrangeiro, mais forte nos republicanos, xenófobos por natureza e menos propensos a exaustivas racionalizações, e praticamente inexistente nos democratas e nos independentes, tende a se transformar em consenso, como acontece no resto do mundo, diante da carestia do emprego.

Isto posto, resta aos candidatos a ‘commander in chief’ do país mais poderoso –  e mais diversificado – do mundo, tentar definir sua estratégia e conduta de acordo com o cenário politico corrente, ou seja:

Ao Obama, como já mencionado anteriormente neste ‘blog’, fazer exatamente o que tem feito pra manter, a todo custo, o quadro vigente em 2008, que o elegeu.

Os problemas na economia são basicamente os mesmos, onde, conforme as pesquisas, o desemprego tem tido o maior peso junto ao eleitor.

A diferença, pro seu azar, é que, tendo conduzido o governo por mais de três anos, ele não representa mais a grande esperança, mas pode representar a incompetência.

A taxa de desemprego não dá chance, e nem desce dos 8%, e o cenário econômico mundial, principalmente o europeu, diferentemente de 2008, quando a crítica convergia uníssona para a Wall Street dos USA, está muito mais debilitado, e as bruxas da economia doente, mais difíceis de ser caçadas, embora já se tenham queimado algumas, ‘just in case’…

É de se projetar um cenário ainda mais difícil, pelo menos no curto prazo, porque o ‘tsunami’ só recentemente se alastrou aos ‘quatro cantos’ do mundo, e, pra freguês sem dinheiro até as vendas pela caderneta caem…

Ao Romney, tentar mostrar que o adversário é o grande culpado por todos os males, e que ele, Romney, tem sim, com base em seu excelente trabalho de propulsor de crescimento e gerador de emprego como governador de Massachusetts – desmentido pelas estatísticas – a solução definitiva pra todos esses males.

De acordo com o que se vê nas campanhas de televisão, a idéia continua sendo a defenestração do oponente. Qualquer deslize, qualquer expressão mal colocada, uma palavra mal dita, uma gafe qualquer, é o bastante pra prosseguir no linchamento, de ambos os lados. Não é preciso, necessariamente, mostrar qualidades, e muito menos planos de governo. Só não é admissível, nesse bate-boca e jogo duro de assistir, que o ‘outro’ tenha alguma capacitação.

Entre interrupções mal colocadas e mal-educadas (de ‘hecklers’), e vaias (“Romney, go home!”, sem especificar pra qual das casas que o magnata tem em toda parte…) de opositores, os candidatos parecem prosseguir em suas campanhas apenas esperando que o contendor faça alguma bobagem que possa ser explorada em seguida.

Romney, ‘o empregador’, concentrado em demonstrar que Obama administra mal a economia gastando muito, de forma a causar mais desemprego, solta ‘pérolas’ do tipo “Obama diz que precisamos de mais bombeiros, mais policiais e mais professores. Eu digo não, porque precisamos parar de gastar!

Como nada poderia ser mais impopular aqui do que prejudicar bombeiros e professores, tidos como heróis nacionais, virou material trazido de bandeja pra novos ataques do outro lado, claro…

Já o Obama, conseguiu dar uma cajadada só, no congresso modorrento e na oposição babélica, anunciada solene e emocionalmente nos jardins da Casa Branca, ao suspender por dois anos, prorrogáveis, a deportação de crianças e jovens imigrantes bona fide, mas sem documentos, menores de 30 anos de idade, trazidos pra América ilegalmente antes dos 16 anos e que aqui estejam há mais de cinco. Além disso, autoriza a solicitação de trabalho legal durante o período.

Isso enfureceu os ‘marqueteiros’ republicanos, porque nada se revelou mais popular (pelas pesquisas, 2/3 dos americanos apoiaram).

A comunidade latina – as ‘pequenas havanas’ e os ‘novos méxicos’, que detém o ‘oligopólio’ de imigrantes ilegais – só vai parar de celebrar em novembro, pra votar.

A oposição, aparentemente ‘pega de calças curtas’, nada pode fazer além de espernear freneticamente e insinuar que faria o mesmo, se pretende, como deveria, manter o foco na economia ‘arruinada pelo Obama’ e ficar ao lado da opinião pública.

Essa me parece ser a sua única chance de mudar o quadro de preferência do eleitor demonstrado em 2008, quando pouco menos de 70% dos latinos deram seu voto ao democrata, contra pouco mais de 30% ao republicano McCain, números que as pesquisas de intenção de voto agora indicam se repetirem.

Na prática, tal medida administrativa de ‘suspender’ essas deportações não vai mudar nada tanto assim, eis que crianças nunca foram prioridade do ‘stop-and-frisk’ (‘pare e reviste’) dos policiais nas ruas, nas operações ‘pega-ilegal’, seja em New York ou Little Rock no Arkansas, ou mesmo no Alabama.

E dar informação pessoal pra obter autorização pra trabalhar pode revelar parentes que não se incluem no perfil…

Mas o enorme benefício politico da manobra, como já comentado neste ‘blog’ pelo Dr. Norberto Fornari em sua crônica “Uma jogada de mestre”, é inegável e irremediável, haja vista as inúmeras demonstrações populares.

“Touché, commandant en chef Obama!”

“Romney, your turn! We are waiting…”