Quando me desalento por encontrar um exagero de más notícias e uma escassez de boas novas, algo me faz encontrar forças para nutrir o pouco de esperança que resta. Agora é uma reportagem sobre 112 pessoas em São Paulo, a insensata capital que juntou vinte milhões de seres humanos vivendo no caos, que cuidam de praças com verba própria (FSP, 15.6.14). Algumas gastam até 600 reais por mês do próprio bolso para que jardins não pereçam. Esta imensidão paulistana tem 550 adotantes para suas 5 mil áreas verdes. Pouco mais de 10% do número de minúsculas reservas se interessaram por tornar a cidade mais humana.
O brasileiro não é zelador da coisa pública. Ao contrário, aqui o que é público, em lugar de sua categoria jurídica de “bem de uso de todos”, é algo que pertence a ninguém. É a antiga “res nullius” do Direito Romano.
Uma santa inveja de brasileiro que viaja pelo Primeiro Mundo é o carinho com que as pessoas tratam de seus espaços públicos. Aqui, ao contrário, a vergonha que se tem da sujeira crescente. Quanto mais ignorante o povo, mais resíduo sólido ele produz. E não há inocentes nessa feia tradição de tornar sujas as ruas, os passeios, os espaços livres. Quanta gente escolarizada joga seus detritos das janelas entreabertas dos carros blindados. Quanta empresa faz propaganda em papel e emprega mão de obra ociosa para ficar distribuindo folhetos que vão parar nas ruas e entupir os bueiros e bocas de lobo.
Verdade que a burocracia infernal é empecilho a quem pretenda fazer algo em favor dos outros. É preciso formalizar o pedido, licença, alvará, publicação no Diário Oficial e outros estiolantes procedimentos que desestimulam a boa vontade. Em compensação, quem lança lixo à rua ou despeja restos de demolição em terreno alheio não é multado.
Há um longo caminho a percorrer até que as pessoas se convençam de que todos ganham se a cidade ficar mais limpa e mais bonita. Nem tudo está perdido quando 112 indivíduos são generosos e sensíveis a ponto de oferecer tempo e dinheiro para ajardinar praças, limpar espaços verdes, recuperar aquilo que a ignorância fez perecer. Como seria bom que eles se multiplicassem para bem do Brasil e das gerações de amanhã, que hoje crescem como se a sujeira fosse natural à condição humana.