Consciência histórica é o privilégio do homem moderno de ter plena consciência da historicidade de todo presente e da relatividade de toda opinião, é o conceito de Hans-Georg Gadamer. Sob essa ótica, em quem podemos nos apoiar para compreender o que ocorre em nossos dias?
Estes dias meditei sobre os 140 anos do Tribunal de Justiça que se completaram dia 3 de fevereiro, um mês depois de minha posse na presidência. Tenho presente que sua fundação, em 1874, incluiu-se numa era de transformações paulistas. A São Paulo do fim do império já experimentava a ruptura dos modelos culturais, por força da criação da Faculdade do Largo de São Francisco. Já se conformava com o abolicionismo, que viria em 14 anos. Havia um cansaço do Império, embora não do Imperador.
Caio Prado menciona circunstâncias geográficas favoráveis à colonização e desenvolvimento urbano paulistano. Mas os fatores econômicos não foram menores. O café avançou pelo Vale do Paraíba e em meados do século 19, já atingia o Oeste Paulista.
A partir de 1872 intensificou-se a imigração europeia. Nesse ano, inaugura-se a estrada de ferro Jundiaí-Campinas, pela extinta e saudosa Companhia Paulista de Estradas de Ferro, da qual fui praticante escriturário a partir de 1964. Cinco anos antes, começara a funcionar a primeira linha férrea da província: a SJ – Santos a Jundiaí.
A partir de 1872 intensificou-se a imigração europeia. Nesse ano, inaugura-se a estrada de ferro Jundiaí-Campinas, pela extinta e saudosa Companhia Paulista de Estradas de Ferro, da qual fui praticante escriturário a partir de 1964. Cinco anos antes, começara a funcionar a primeira linha férrea da província: a SJ – Santos a Jundiaí.
Foi nesse clima auspicioso de progresso que se instalou o Tribunal da Relação. De lá para 2014, foram 140 anos! Se é muito comparado à vida de uma pessoa, é pouco para uma instituição. Mas isso é irrelevante se considerarmos a São Paulo do último quarto do século 19, a pauliceia que viu Ramos de Azevedo erguer o Palácio em plena crise – teve início em 1920 e foi inaugurado em 1933 – e a insólita metrópole de hoje.
As ruas, espaço de convívio cidadão, converteram-se em palco de episódios inenarráveis. Ninguém sabe se chegará vivo à sua casa. Vive-se sob a égide de um Estatuto do Desarmamento e nunca se viu tanta arma a ceifar vidas. As manifestações não têm identidade porque são difusas e atraem a baderna. Qual o intérprete confiável do que está acontecendo em São Paulo? Quem hoje detém uma lúcida consciência histórica?