Vive-se uma epidemia de crack. Isso é fato. A droga surgiu nos anos 1980, nos Estados Unidos. Ela entrou com força em nosso país nos anos 1990. Chegou sorrateira e, aos poucos, foi ganhando as proporções de uma epidemia. O preço reduzido e a imediata dependência foram alguns dos fatores que “popularizaram” essa praga.
Vimos, na última década, crescer o uso do crack nas áreas centrais da cidade de São Paulo. Um caos da miserabilidade humana. Liberdades individuais e coletivas foram devastadas pela droga.
A cracolândia é apenas um pequeno retrato dessa crise. Há vários outros espaços onde a ausência do poder público permite a proliferação daquilo que é ilegal, daquilo que é incorreto, daquilo que rouba a liberdade e a dignidade humana.
Um estudo recente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) revelou que o crack está presente em 91% das cidades brasileiras. Em todos os casos, o número de usuários está crescendo.
Houve muita polêmica em relação à ação do poder público na cracolândia. Vamos esquecer os eventuais culpados. O tema não deve se prestar a disputas ideológicas. Este é um momento de união e de busca de soluções.
A primeira ação deve ser preventiva. Temos que cuidar das nossas crianças e adolescentes para que eles possam compreender os danos à liberdade e à vida que essa e outras drogas acarretam.
Precisamos de educação e de saúde juntas. Esse é um papel da família, do Estado, da mídia, das igrejas, dos clubes de serviços, de toda a sociedade organizada.
Temos que coibir a ação dos traficantes. Temos que cuidar daqueles que, sem políticas de prevenção e sem orientação adequada, entraram nesse círculo vicioso.
A internação de um dependente químico não é simples. É preciso contar com a experiência de numerosas comunidades terapêuticas, que vêm conseguindo realizar um bom trabalho. O tratamento é penoso e exige uma ação generosa de respeito ao próximo, de amor fraterno e de auxílio efetivo a esses cidadãos (infelizmente, tratados como invisíveis) e às suas famílias.
Vimos, com pesar, o lamento das mães em busca dos seus filhos. Com igual pesar, vimos cenas trágicas de grávidas sem a liberdade de abandonar o vício e de crianças com o futuro esvaziado pela ausência de possibilidades.
Não podemos correr o risco de implementar políticas higienistas. Pessoas não são coisas. Expulsas de um lado, elas continuam a existir em outro, com os mesmos problemas. Se forem cuidadas, entretanto, elas podem construir a própria história. E é nisso que acreditamos.
Uma grande cidade é aquela que sabe cuidar dos grandes projetos que dão base ao progresso e à melhor qualidade de vida, mas é também aquela que não abandona os seus filhos.
Avancemos na construção de uma nova e forte aliança com a vida. Vamos nos unir na reconquista do direito de cada um de viver e de conviver em sociedade. Dignamente. Livremente. Somos responsáveis uns pelos outros.
Parabéns pelo artigo! É difícil aceitarmos um drogado, ainda mais quando é um desconhecido. Ao vermos alguém abandonado na sarjeta, procuramos nos desviar. É necessário mais divulgação através da mídia de como devemos proceder em relação aos drogados. Muitas pessoas querem ajudar, mas não sabem como.