Crises ou cruzes

O Brasil surpreendeu o mundo e os brasileiros, mergulhando num período traumático, do qual escassas as perspectivas de sair sem sequelas. Há pelo menos cinco graves crises, na verdade cinco cruzes que o brasileiro terá de carregar nos próximos anos. Crise econômica, de liderança, de coalizão, partidária e moral.

A liderança está em falta e bem desacreditada como conceito. Ausente a habilidade política para dialogar com o Congresso e partidos. Falta de argúcia política e voluntarismo inconsequente. Burocratismo faminto a neutralizar qualquer iniciativa. O Congresso tem sido medíocre e não satisfaz as expectativas da sociedade. Esta se refugia em protagonistas da Polícia Federal e do Poder Judiciário.

O excesso de partidos, sem ideologia que os distinga um do outro, convence a população de que eles só existem para o favorecimento pessoal de seus integrantes. A coalizão torna ingovernável o País e os estados membros. A fisiologia, o “toma lá dá cá”, o “é dando que se recebe” não terminou. É impressionante como nas escalas inferiores da Federação a prática da corrupção e a cobrança de propina continua como dado cultural, na convicção de que apenas “os de cima” é que serão encarcerados.

Os partidos parecem não perceber que a nau está fazendo água. Aquele que detinha o monopólio da ética vivencia a sua mais profunda crise moral. Evidencia uma esclerose organizacional e vende o que restou da alma para resgatar os ingênuos e crédulos que ainda acreditam nele.

A oposição é um conjunto de vocações egoístas, com indefinição de estratégias, desarticulação com a sociedade e evidente incoerência programática. O maior partido da coalizão também não se entende na disputa interna. Padece de idêntica vacuidade programática e faz jus à concepção generalizada de que “se há governo, sou a favor”.

Tudo culmina em crise de legitimidade, pois a cidadania está descrente da política e da representatividade. Ainda assim, não consegue se manifestar de forma coerente. Os pleitos são difusos, há o oportunismo dos radicais, o vandalismo descredencia os movimentos de base. Quem seriam os “Cireneus” que ajudariam o brasileiro a carregar suas cruzes? A “via crucis” já teve início. Como terminará?

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 17/01/2016
JOSÉ RENATO NALINI é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.