De filho pra pai…

A expressão popular “tal pai, tal filho”, quase sempre tem a conotação de elogio, aludindo-se às qualidades herdadas do genitor, tais como honestidade, dedicação ao trabalho, algum talento artístico ou habilidade esportiva.

Mesmo o dito “filhinho-de-papai”, o chamado ‘playboy’, se aplica ao caso do ‘bon vivant’, o que sabe gozar a vida, preferencialmente em Paris…

Em “filho-do-pai”, então, como não pensar em Jesus Cristo e que “Deus é pai”?

Particularidades linguísticas à parte, neste dia dos pais, eu quero prestar homenagem a todos os pais que, como o meu, ‘foram dados à luz’ no exato momento em que seguraram no colo o seu filhote recém-nascido – biológico ou adotado – entenderam a cumplicidade e a dependência que ali também nasciam, e daquele colo nunca mais o tiraram!

Quero honrar aquele pai que teve que aprender a cruzar os dedos e precisou esquecer como cruzar os braços!

Aquele que provê o sustento e nos garante o bem-estar – muitas vezes em detrimento do seu – e se tornou um ‘pai crônico’, vício vitalício e sem forma conhecida de cura!

O que nos fez andar só com as pernas e correr para a segurança e o conforto do abraço!

O mestre que nos ensina como se equilibrar na bicicleta… se manter na superfície da água… usar o vento soltando pipa – ou ‘empinando papagaio’… manusear o martelo e pôr a minhoca no anzol sem machucar o dedão… distinguir o que presta e o que é ‘droga’… fazer a ‘macarronada-com-vinho’, o ‘frango-com-uísque’ e o ‘churrasco-com-caipirinha’ aos domingos…

O que pode dar a habilidade de dirigir e o automóvel, e mais ainda aquele que, orgulhoso, empresta o seu próprio carro – a ação mais abnegada do ‘macho’ moderno!

O pai milionário capaz de dar também o iate e o jatinho, e muito mais aquele que ensinou a fazer o barquinho e o aviaozinho com uma folha de papel…

Aquele que nos transfere tudo que sabe e ainda, inconformado, impôe a escola, porque nos quer muito mais sábios do que se imagina…

O que, numa espécie de autoflagelação, nos facilita a vida do lado de fora da porta de casa, mas não consegue deixar de esperar que tal porta se abra nos trazendo de volta…

Quero homenagear também aquele pai dos amigos e amigas da minha juventude, quem, mesmo na convivência eventual, era capaz de fazer despertar em mim a sensação de ser também filho…

Ah, se os que o perdemos pudéssemos abraçar de novo aquele homem querido e sentir aquelas mãos enormes que um dia nos envolveram inteiros e que, quando ainda pequenos e vulneráveis diante do mundo, conseguíamos agarrar e nos tornávamos filhos do super-homem!

Como filho, quero erguer um brinde ao meu velho e a todos os homens que se transformaram em pais.

Neste dia a ser dedicado aos pais, curvo-me em reverência àqueles que, enquanto presentes, só têm a imperfeição de não conseguir transmitir a noção da imensa falta que são capazes de fazer!