O jornal “Le Monde” de 3 de julho de 2013, ostenta na primeira página uma foto da presidente Dilma com o título “La dégringolade”. Não é preciso saber francês para identificar o que a França constatou: a degringolada do governo, após a difusa e inesperada manifestação das ruas.
Na página 23 do jornal, Nicolas Bourcier, correspondente do “Le Monde” no Rio de Janeiro, faz sua análise do caso. Diz que o primeiro ato da presidente, ao assumir em janeiro de 2011, foi retirar o crucifixo de seu gabinete e também a Bíblia. Herdeira de Lula, conseguiu passar a imagem de seriedade e sobriedade. Estava com 65% de aprovação em março de 2013. Depois vem a irresistível degringolada. Perdeu 27% em três semanas, a mais violenta queda depois do fim da ditadura em 1985.
Isso porque as manifestações escancararam a nudez do hiato entre as ambições do discurso e os meios empregados para atingi-las. A presidente é prisioneira de um sistema político minado pela corrupção e pela impunidade.
Dez anos de governo teriam sido suficientes para a erradicação dos males que o PT apontava com tanta acuidade enquanto oposição. Sua capacidade de gerir, seu centralismo, sua severidade, poderiam atuar de maneira mais eficaz no comando do Brasil. Tivera a mesma autoridade que demonstra no avião presidencial e o País seria outro. Pois o “Le Monde” noticia que ela intervém na cabine de pilotagem no caso de intempérie, reclama ao comandante que acelere ou mude de rota. Dilma não gosta de turbulências durante o voo. Mas não notou que a turbulência atingiria o Brasil e agora não existe um comandante a quem emitir ordens.
Quem é que está a pilotar a revolta popular? Qual a mudança de rota agora possível? Como fugir à tempestade?
O discurso é um, mas a realidade é outra. O orçamento federal consagra 2% para a educação, 4% à saúde e 0,7% aos transportes, três dos setores que concentram as reivindicações dos manifestantes.
Essa é a visão do “Le Monde”, jornal francês. Cada um faça a sua leitura, com os dados de que dispuser. Mas hoje o Brasil não é o mesmo de há três meses. O que virá no futuro? A quem recorrer, se o crucifixo e a Bíblia foram relegados?