Irene Ravache e Dan Stulbach, sob a direção de Elias Andreato, são os atores da peça “Meu Deus!”, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso. O texto é de Anat Gov, dramaturga nascida em Tiberíades, Israel, em 1953 e falecida em 2012. Escreveu também “Final Feliz”, teatralizando a experiência de ter contraído câncer. Em lugar de lutar, o personagem sucumbe à doença e recusa a quimioterapia, preferindo qualidade de vida.
Assisti a “Meu Deus!” e já esperava uma performance fabulosa dessa dupla. Sou fã de Irene Ravache desde que ela protagonizou “Beto Rockfeller”, desempenhando o papel de irmã do próprio, o Luiz Gustavo. Ainda a associo ao seu tema, o “Here, There and Everywhere”, celebrizado pelos Beatles e uma das mais lindas músicas já produzidas.
O assunto da peça é o cansaço de Deus. Ele resolve fazer terapia por estar deprimido nos últimos 2 mil anos. Espera que a psicóloga Ana o ajude a trabalhar com isso. Até mesmo os mais ortodoxos gostarão do que vão ouvir. Se fosse para enumerar as razões da depressão divina, sob a nossa mísera régua de avaliação, até que Ele teria todos os motivos para se desencantar com a espécie.
O bicho-homem é o mais estranho, o mais inesperado, o mais egoísta, o mais ingrato e o mais insensível que existe sobre a face deste Planeta. Presunçoso, pretensioso, pensa que vai viver eternamente e parece não ter compromisso algum com aqueles que continuarão na Terra depois que ele partir. No seu imediatismo, custa-lhe pensar que a Humanidade sobreviveu muito bem sem ele, e que – mesmo aos trancos e barrancos – continuará a existir sem ele.
Talvez até melhor, considerados os maus tratos que ele está a infligir à natureza. Se Deus fosse humano! – que loucura tentar desenhar o Criador a partir de nossas lentes embaçadas… – ele estaria arrependido de haver criado uma espécie tão complexa. Capaz de fazer o mal ao seu semelhante, capaz de guerrear, capaz de premeditar a infelicidade alheia, capaz de dormir todas as noites, mesmo sabendo que, por causa dele, alguém é infeliz.
Assistir a “Meu Deus!” faz pensar. Para quem ainda não perdeu de todo o sentimento original, a pureza de criança, fará retomar o propósito de ser um pouquinho melhor. Esse pouquinho, se multiplicado, fará a diferença.