DNA DA CORRUPÇÃO

Num breve percurso pela história do Brasil, em especial na Primeira
República (1889-1930), observo que a elite política raramente foi acusada de
práticas corruptas. Exemplo, o último dos presidentes do período,
Washington Luís, depois de deposto, partiu para o exílio, vivendo no
exterior com crescentes dificuldades financeiras. Após a Revolução de 1930,
com Getúlio Vargas, a corrupção ganhou força e novas formas, em função das
possibilidades abertas pelo processo de industrialização. O grande salto
veio a partir da construção de Brasília, um verdadeiro marco, por conta dos
arranjos nada transparentes entre o governo e as grandes construtoras.
Concorreu também o isolamento dos Poderes da República no Planalto Central,
com a criação de um mundo de fantasia e a formação de um clube privado de
benesses e oportunidades. Quem primeiro associou a moralização do governo e
da sociedade com práticas populistas foi Jânio Quadros, acendendo
rapidamente ao poder pelo voto popular. Fernando Collor saiu do anonimato
com a caça aos marajás e as acusações de irregularidades do então presidente
Sarney. Vejam se pode! A mídia vem cumprindo diuturnamente o papel de
denunciar os escândalos da corrupção. Falo do conluio entre grandes empresas
e governantes na contratação de obras públicas; das beneses ilegais a
parlamentares, venham de onde vierem; dos desvios de verbas públicas para
bolsos privados e de toda uma série de delitos que fazem parte do pão nosso
de cada dia. Aponto a raiz da corrupção em nosso País invocando nossa
colonização ibérica, sem distinguir o patrimônio público do privado, sendo
inscrita no DNA dos brasileiros com possibilidades remotas de superação.
Pergunto, em comparação ao passado, a corrupção chegou a níveis impensáveis,
ou apenas se tornou mais conhecida, pela atuação de mídia e pelos esforços
para reprimi-la? Não tenho dúvidas de que tudo cresceu; a corrupção, que
ganhou formas e alcance inéditos, assim como sua denúncia e a repressão. A
luta pela construção de uma sociedade em que a prática da corrupção seja
limitada (em algum grau ela sempre existirá) depende de uma combinação de
fatores. Um deles é a repressão e a punição eficazes, que teriam um efeito
extraordinário no conjunto da vida social. Outro é o da transformação da
nossa cultura transgressora, indispensável tarefa de longo prazo.