O Brasil viveu um período de euforia econômica nos últimos anos, mesmo quando os EUA e a Europa presenciavam a instalação da, possivelmente, maior crise econômica da história.
Até aí nada de errado, em épocas de mercado favorável o correto é faturar. Mas o comportamento humano na sua essência é previsível, não obstante se os cenários mudam. Em situações confortáveis, quando o dinheiro flui em abundância, relaxam-se os controles para a melhor performance ou a correção de alguns erros evidentes. Isso acontece dentro de casa, nas empresas ou no âmbito governamental, e só mudará quando a fonte começar a secar.
É o que estamos vendo hoje, exemplificado pelas recentes medidas econômicas – e muito oportunas, façamos justiça – do governo que, ao sentir o desconforto das primeiras marolas, percebeu negras e ameaçadoras nuvens pela frente, com a queda sensível da atividade econômica no último quadrimestre.
Em curto espaço de tempo houve o corte dos juros acompanhados de um ataque também aos altos spreads bancários. Atacou-se o alto custo da energia elétrica e já se estuda diminuir a carga tributária sobre ela. Aceita-se publicamente que o imposto sobre a telefonia é um “absurdo”, segundo o ministro das Comunicações Paulo Bernardo. Agora veio a redução do IPI dos carros de passeios, no mesmo dia em que a Mercedes e a Volvo anunciaram a paralização da produção de caminhões, para se adequarem à demanda. Tudo se desenrola como uma reação em cascata.
Não podemos questionar o mérito dessas medidas, mas todas elas têm um denominador comum: aumentar o consumo. Talvez no atual estágio da crise mundial, isso já não tenha o mesmo efeito que as medidas semelhantes em 2008.
O primeiro detalhe é que o consumidor hoje está muito mais endividado que em 2008/09, e com isso o panorama muda radicalmente. O aumento da inadimplência no financiamento de veículos dobrou no último ano.
Também hoje, temos o fator China que reduziu as encomendas dos setores básicos principalmente soja, minério de ferro e petróleo.
Nessas horas ficam mais evidentes as pressões sobre muitos problemas crônicos que precisam há muito serem atacados, para o governo fazer o dever de casa adequadamente: a reforma tributária. O ICMS dos estados, por exemplo, é uma das grandes pedras no sapato de nossa economia.
As alterações sucessivas das projeções do PIB para 2012 são exemplos claros tanto do arrefecimento, quanto das incertezas do governo sobre o futuro, a médio prazo, da economia. Ao final de 2011, ou seja, a não mais de 5 meses, tínhamos a promessa peremptória que o PIB cresceria e chegaria a 5% este ano. Em pouco tempo o ministro Guido Mantega passou a falar de 4,5% a 4,0%, enquanto o Banco Central já falava em 3,0%, e atualmente o ministro se restringe a dizer que será maior que os 2,7% do ano passado, ao passo que para o ministro do Planejamento Fernando Pimentel será em torno de 2,5% e 3,0%.
Agências de consultorias já projetam um crescimento do PIB em 2012 para 2,5 %, como mencionou o Prof. Messias Mercadante de Castro nesse Blog.
Fica claro para o leitor, a vulnerabilidade das verdades absolutas proferidas em alto e bom som nas entrevistas ou nos palanques, sobre milagres econômicos. Exemplo típico foi o sumiço do capital externo, confirmando a tese, muito contestada, de que era extremamente volátil, e o que o justificava aqui eram os altos juros oferecidos no mercado interno.