A etimologia ensina que as palavras economia e utopia têm sua origem na Grécia antiga (ah, os bons velhos tempos gregos…).
A primeira deriva da junção de ‘oikos’ (casa) e ‘nomos’ (costume, regra, administração), representando, aqui, administração da casa; a segunda resulta da composição de ‘óu’ (não) com ‘topos’ (lugar), e significa, literalmente, nenhum lugar.
A julgar pelos resultados, é a esse lugar-nenhum que as medidas administrativas dos governos – assustados, diga-se de passagem – usadas na terapia da crise econômica têm chegado, dependendo de quando e onde os sintomas, que se confundem com causas, aparecem…
Em tempos de capitalização política de leigos facundos – e politização do melhor capital intelectual, que muitas vezes silencia – os percalços da economia inflam egos, mas não acham a saída pro consumidor falido e desempregado.
O conchavo politico com o legislativo, necessário porque libera o tratamento, muitas vezes sucumbe à tentação de se beneficiar da doença, obstruindo – até com medicação errada – a possibilidade de alta do paciente.
A ineficácia de tais medidas, baseadas na ladainha de que a única forma de crescer é a redução do déficit governamental pelo corte do custo e pela eliminação de novos dispêndios, obriga a reorientar a lente pro aumento da receita, via arrecadação em economia forte.
Tire-se o contribuinte da humilhante faixa de isenção em que ele se encontra, e ele devolverá mais tributo. Simples assim…
A nobre e propagada austeridade, no sentido de contenção de despesas, que alegadamente conquistaria a confiança da sociedade, já provou que provoca o enfraquecimento da economia, porque tem ojeriza a dar emprego e não gosta de investir.
O que mais se ouve em toda parte é o mantra “mais dívida pública não resolve a questão da dívida pública”.
Ocorre que o problema urgente, a sangria aguda, não é a tal ‘dívida pública’ do estado (a diferença entre a arrecadação e os gastos do governo, coberta com empréstimos, diretos e/ou através da venda de ‘bonds’), mas o desemprego do cidadão, paradoxalmente causa e efeito da redução da atividade econômica como um todo.
Os Estados Unidos pós-depressão de 30 ficaram ricos gastando muito.
O mundo capitalista cresceu na razão direta do que conseguiu investir, empregar e produzir “pra dar e vender”, o que parece ser hoje a estratégia chinesa, que cresce “a olhos vistos” e já tenta “puxar o breque de mão” pra minimizar eventuais efeitos colaterais – as tais ‘dores do crescimento’.
O setor público, de natureza muito diferente do setor privado, deveria manter um comportamento também diferente daquele, eis que existe pra estabilizar as flutuações naturais da economia: nesses dias em que empresas e consumidores se retraem, reduzindo investimento e despesa, deveria contrabalançar, indo em direção contrária.
É o que a história indica – e também aponta os repetidos erros! – como tratamento de crises semelhantes ocorridas no passado, na maioria das vezes.
Se a administração pública pretende oferecer qualidades de setor privado (que não tem escolha se quiser sobreviver), que o demonstre – com a ajuda de bons administradores, patriotas e apartidários! – em maior esforço pra eliminar o desperdício dos incompetentes e – com a ajuda da polícia e do judiciário, idem, idem! – em melhor empenho pra expulsar os ladrões de suas entranhas!
Os salários e vantagens achacadoras, quando não ilegais, acerta-se com o imposto de renda, como se faz com qualquer cidadão, com renda de celebridade ou não. O ‘leão’ foi criado pra isso…
Crédito, ainda que a custo zero, facilitado acima da capacidade de pagamento que só a renda tem – ou do que ‘mostra a bola de cristal’ do departamento de vendas do empresário – é apenas dívida que ainda não se transformou em calote.
Sem mencionar que o bom pagador bem-empregado de agora pode estar na ‘fila da sopa’ de amanhã, com essa ‘foice’ correndo solta…
Em outras palavras, o problema urgente não é a dívida do dono do armazém, mas o desemprego da freguesia.
E o freguês empregado, ou re-empregado, ou nascido in bolsa, agora com algum dinheiro pra chamar de seu no bolso, é quem vai ajudar – e muito! – a resolver aquela dívida mais adiante!
Fonte: www.tipnews.info, em seu ‘blog’, no artigo “Richard Layard explains the Manifesto for Economic Sense”).
Tal “Manifesto for Economic Sense” (Manifesto em Prol do Sentido Econômico) tem como autores, além do professor inglês Richard Layard, o economista e professor americano Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel em 2008.