A educação de berço

Como está fazendo falta a boa educação de berço. Em todos os níveis. Sou do tempo em que os pais olhavam e a gente entendia. Usava-se oferecer o assento em coletivos para as mulheres e pessoas idosas. Era costume cumprimentar:

“Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Até logo, até amanhã, prazer em vê-lo!”. Quando o professor entrava em sala de aula, o universitário se postava em pé. Só se sentava quando o mestre autorizava ou quando ele também se sentasse.

Os tempos mudaram. O empurra-empurra é a regra. Furar fila é sinal de esperteza. O número daqueles que se utilizam de toaletes e não acionam a descarga só se equipara ao dos que não lavam as mãos.

O palavreado é chulo. Pessoas escolarizadas não se pejam em falar palavrões que escandalizariam reeducandos. Os bons modos só existem quando interessa agradar alguém. O servilismo é a regra.

Normalmente, quem se agacha perante detentor de autoridade também exagera nos maus-tratos com os humildes. Onde foram parar o civismo, a delicadeza, a polidez? O que a humanidade ganha em ser grosseira, rude, mal educada?

Compreende-se que algumas pessoas mal amadas destilem o fel do desamor para os que possam parecer felizes. Mas há privilegiados, destinatários de benesses que tornariam o ser humano a mais bem aventurada das criaturas, que também abusam do mau humor. Tornam tudo mais triste à sua volta.

Grande parte dos problemas enfrentados na prestação de serviços, na esfera estatal e na iniciativa privada, é devida à falta de tato. Há um déficit de traquejo, de savoir faire, de charme e de bom gosto. Boa educação é sinal de bom gosto. Elegante não é quem está com um rollex no pulso ou se perfuma com um extrato bulgari. Elegante é quem sabe tratar bem o semelhante. Notadamente aquele que nada pode nos fazer em troca.

 

Gratuidade e espontaneidade no reconhecer em cada ser humano um semelhante. Ninguém é melhor do que outrem. Todos somos feitos dessa massa miserável que é a raça humana, a pretensiosa parcela da criação que teima em se considerar a única racional, a única detentora do poder e autoridade, aquela que teria obrigação de dar o exemplo. Para onde caminha esta triste humanidade?