EDUCAÇÃO PEDE SOCORRO

É natural que uma nação que viu o Brasil melhorar em tantas áreas espere que
seu governo faça o mesmo pela educação. Nos últimos anos, especialmente a
partir do “Programa Internacional de Avaliação de Estudantes” (Pisa) e do
“Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência” (Timms), os
países desenvolvidos vêm reformulando seus currículos nas áreas de
matemática, ciências e as orientações sobre o ensino da língua e
alfabetização. Há um ambiente de colaboração internacional entre as
autoridades educacionais, do qual nossos representantes têm escolhido não
fazer parte. Para ilustrar a dimensão do fosso que nos separa do resto do
mundo, fazemos uma comparação de fácil digestão para os brasileiros com
Portugal. O currículo de Língua Portuguesa e o de Matemática para o ensino
fundamental foram reformulados com o objetivo explícito de melhorar a
qualidade e se aproximarem dos demais países da Europa. Lá até as escolas
particulares tiveram de fazer adequações para atenderem aos novos padrões,
que, além de detalhados, são desafiadores para os alunos e seus professores.
Alguns exemplos do que o documento da terra de Camões apresenta: no primeiro
ano o aluno deve ler, num texto simples, 55 palavras por minuto; no segundo
ano, 90 palavras por minuto e no terceiro ano, 110 palavras por minuto.
Também no terceiro ano os portugueses devem “escrever pequenas narrativas,
incluindo os seus elementos constituintes: quem, quando, onde, o quê, como”.
E vão “introduzir diálogos em textos narrativos”. Fica fácil imaginar que,
daqui a dez anos, seremos nós os protagonistas das piadas de português. Os
legisladores poderiam abrir espaço para ouvir outras vozes, analisar a
experiência internacional e avaliar políticas públicas que efetivamente
possam promover avanços na alfabetização das crianças. Poderiam, por
exemplo, começar ouvindo o que a Academia Brasileira de Ciências tem a dizer
– inclusive saberiam que, se existe um ciclo de alfabetização, ele deveria
começar na educação infantil e terminar no primeiro ano do ensino
fundamental. Quem sabe o nosso ministro da Educação, Mendonça Filho
(DEM-PE), se disponha a ter um curto diálogo com seu colega Tiago Brandão
Rodrigues, de Portugal, ou o presidente Michel Temer se sensibilize com
padrões educacionais que apesar de ambiciosos, poderão fazer do Brasil um
país realmente cosmopolita e menos desigual.