O envelhecimento, a produtividade e o economista

Há sessenta anos, o psicólogo Harvey Lehman publicou Age and Achievement (Idade e Sucesso), onde examina o ciclo de vida da produtividade em vários campos da atividade humana: o humanístico em geral, o científico e o artístico.

Lehman demonstra, estatisticamente, que a contribuição dos mestres da matemática – ou daqueles que se sobressaem em outras áreas relacionadas a ela – atinge sua plenitude bem cedo.

Já para os humanistas e os amantes das artes, na maioria dos casos, o demonstrativo de Lehman atesta que o sucesso é alcançado bem  mais tarde em suas vidas.

E os economistas, como ficam nessa comparação?

Daniel S. Hamermesh, economista da Universidade do Texas, em Austin, compilou os artigos publicados, entre 1963 e 2011, em três dos principais jornais de economia americanos: o American Economic Review (AER), o Journal of Political Economy (JPE) e o Quarterly Journal of Economics (QJE).

Os estudos divulgados nessas publicações têm grande prestígio e o maior impacto na concessão de louros no universo dos profissionais em economia.

Um dos pontos que a tabela de Hamermesh destaca é o fato de que até os anos 90 a pesquisa sempre foi atributo de economistas mais jovens: quase ninguém acima dos 50 anos publicou algum trabalho nesses conceituados veículos de divulgação da ciência econômica.

Contudo, a compilação de Hamermesh também explicita que, embora 80% dos autores estejam abaixo dos 50 anos – bem mais jovens do que a média etária dos professores-doutores das universidades americanas e europeias – o percentual de participação dos mais velhos (acima dos 50 anos) nos artigos publicados aumentou, nos últimos quinze anos, de 5% para 20%.

Simples teorias econômicas e muita evidência estatística tornam inegável que existe uma relação de Curva-J (*) invertida entre idade e produtividade.

Quando se é jovem, compensa investir em conhecimento e habilidade de forma a garantir maiores ganhos por tempo mais longo.

Em geral, para os mais velhos, desenvolver habilidades e inovar é, fisicamente, muito mais difícil e obriga a abrir mão de confortável e cômodo status quo, diante da perspectiva de curta fruição do possível benefício.

Isso vale não só para os economistas, mas pra qualquer professional que considere importante o incentivo econômico à sua capacidade produtiva.

Aos economistas consagrados – ainda que velhos! – sempre haverá a consultoria e a administração acadêmica, além do fato de que a redução dos avanços tecnológicos na área tem distanciado a ciência econômica da matemática pura, aproximando-a muito mais do campo humanístico, por obra e graça da própria evolução da sociedade moderna, em que a microeconomia parece resolver melhor os problemas do mundo real.

Quando saímos da flor da idade e chegamos na semente e no frigir dos ovos, a história geralmente confirma que tendemos a produzir mais dores do que sucessos.

Mesmo os economistas – eternos especuladores! – preferem investir mais na eternidade do que inventar moda, e os babyboomers materialistas do meu tempo parecem mais interessados em se tatuar e passear de Harley Davidson, enquanto podem se ter em pé, ao som dos Beatles e Beach Boys em seus iPods, estimulando, aos milhares e quando muito, a economia da pacata Sturgis, em South Dakota…

 

(*) O termo Curva-J(J-curve) é usado em diferentes áreas pra se referir a um diagrama no qual uma curva primeiro decresce para em seguida crescer bem acima do ponto inicial, lembrando o formato da letra jota.

Em economia, é mais usada pra ilustrar investimentos, cuja rentabilidade cai num primeiro momento, mas cresce ao longo do tempo em relação à situação inicial.