ESPERANÇA NOS NOVOS MANDATOS

Com os novos mandatos, o Brasil está diante da alternativa de dar o primeiro
passo no caminho de uma ampla e profunda reforma nos padrões da política.
Chega de dizer que as intermitentes crises por que passa o País apenas
mostram a solidez das instituições. Não é verdade. A cada novo episódio –
desses que exibem larápios surrupiando os cofres do Estado – a sociedade
mais se afasta do sistema político. A maioria dos eleitores correu às urnas
com as esperanças engavetadas, como a cumprir uma obrigação que, a cada dois
anos se torna menos gratificante. Pesquisas mostram que pequena parcela do
eleitorado se dá conta da importância do voto. Estiveram em jogo, como se
sabe, não apenas escolhas pessoais, amparadas nas qualidades e nos valores
dos empossados, mas uma avaliação sobre o presente e o futuro de nossa
democracia. Massas eleitorais ingênuas, de votos domesticados por candidatos
que degradam o espírito da política, ganharão a disputa do cabo-de-guerra,
mantendo o País no curral da velha política. Afinal, não se transforma voto
alienado em voto consciente da noite para o dia. Significa que a maior parte
dos 70% dos votos da base da pirâmide social continua a acampar no deserto
das crenças, enquanto o voto consciente, com forte penetração nos domínios
dos 25% de eleitores do meio social e nos 5% do topo, não terá forças para
furar o bloqueio do passado. Avoluma-se a impressão de que os novos mandatos
implicarão em conviver ainda com a desonra, a desonestidade, a desfaçatez
dos aventureiros que saqueiam cofres públicos. O “tanto-faz-como-tanto-fez”,
que explica as malandragens dos “meninos” do Presidente Lula, é uma
indicação de que tudo continuará como dantes no “Quartel de Abrantes”. Não
se espere que a próxima legislatura se livre de gente acostumada a
flexibilizar espinhas diante de sacolas lucrativas. Como ficará o
presidencialismo diante da frouxidão moral que tende a solapar ainda mais as
instituições? O desenho aponta para coisas como ondas de suspeição corroendo
a sobra de identidade do PT, expansão do balcão político do novo mandato de
Dilma. A política chegou ao fundo do poço em matéria de moral. Mas não
morreu a esperança de nascer uma flor no pântano. Como dizia o sábio
Zaratustra, há muita lama no mundo, mas nem por isso o mundo é um monstro
que chafurda nela. Se a dignidade tem dificuldade para aparecer nas janelas
do Parlamento, que venha pela porta da frente do Judiciário. Ou que ecoe das
galerias das instituições sociais. Como o velho Rui Barbosa, costumava
pregar: “A pátria forte, a pátria antiga, a pátria unida, a pátria vasta, a
pátria indissolúvel, com a sua ingênita vibração nas veias e no seu lugar de
outrora entre as nações prósperas”. Nova legislatura, nova esperança de
avanços de nossa pátria querida.