Estado-Babá

O Estado é uma sociedade chamada de “fins gerais”. O que significa? Ele tem abrangência para acolher, em seu interior, as demais sociedades chamadas de “fins particulares” e, ainda, os indivíduos que não se filiam a qualquer sociedade. Todos devem ter a oportunidade de se desenvolver em plenitude, alcançando os limites de suas potencialidades.

Essa uma visão singela do Estado, instrumento posto à disposição das pessoas para que elas não sejam impedidas de perseguir seus objetivos. Como instrumento, o Estado nunca pode adquirir a categoria de finalidade. Uma sociedade civilizada pensaria mesmo em alcançar estágio de desnecessidade do Estado. Nível de autogestão, a pressupor uma comunidade capaz de conviver em harmonia, sem o freio do poder e o monopólio da violência exercido pelo governo.

Logicamente, estamos ainda muito longe disso. Talvez tenhamos regredido em lugar de avançar rumo ao patamar ideal. É que hoje o Estado cresceu demais, assenhoreou-se de tantas tarefas, que se tornou imprescindível. Há uma dependência extrema das pessoas em relação ao governo. A sensação é a de que ele se compraz disso e estimula a servidão consentida.

Alguns sintomas são nítidos. Desapareceu o mérito. Tudo passa a depender mais das relações, das indicações, do compadrio, do favoritismo, da fidelidade a algumas causas de interesse escolhidas pelo detentor do poder. Não se prestigia o trabalho. Os direitos devem ser usufruídos sem qualquer contraprestação. Se um dia o pobre se esforçou para conseguir a sua casa, pagou religiosamente as prestações do terreno, serviu-se de mutirão para edificar o lar, hoje a moradia tem de ser entregue pronta e equipada para o usufruto livre de obrigações.

O Estado onisciente, onipotente e onipresente normatiza tudo. Cuida de todos os aspectos da vida pessoal. Interfere na existência de cada indivíduo e este parece confortado e feliz por não ter de escolher nada. Com isso, libera-se da obrigação de se responsabilizar pelas opções feitas quando ocorrem as eleições. Estas são decididas pelos marqueteiros, desde que haja tempo suficiente de televisão para “vender o produto”.

Para um povo infantilizado, que se pretende ver a cada dia mais imbecilizado, nada como um Estado-babá, que tome conta de tudo e de todos.