Estender a mão

Um dos últimos eventos promovidos pela Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo, que tive a honra e o privilégio de exercer entre 2012 e 2013, foi a formatura de um curso de “chefs” na Penitenciária Feminina da Capital. Iniciativa do juiz Jayme Garcia dos Santos Júnior, que contactou Alex Atala e o convenceu a promover essa pioneira experiência. Foi emocionante verificar o entusiasmo de ambas as partes.

Das mulheres que aprenderam que cozinhar não é somente fazer do ingrediente uma comida. É fazer de toda gente uma pessoa melhor. Elas já têm emprego garantido na parceria estabelecida entre a equipe de Atala e David Hertz, da gastromotiva, uma organização não governamental encarregada de resgatar seres humanos através da gastronomia. Num dos pronunciamentos, frisou-se que “o Facebook não é a maior rede social do mundo. A maior rede social existente é a gastronomia”.

Quem se devota à cozinha obtém resultados se mergulha com amor nessa missão. Ouvir os relatos das reeducandas emocionou a todos os presentes. A sociedade precisa se preocupar com o egresso. O crime é um fenômeno social. A perda dos valores, a dissolução da família, a desimportância da Igreja faz com que a delinquência se torne um problema epidêmico e tenha início cada vez mais cedo.

Se conseguíssemos educar – não instruir, dar escolas, dar informações – mas “formar o caráter” da criança e do adolescente, restituindo os valores que realmente merecem apreço, a infração penal não deixaria de existir. Mas seu número se reduziria a uma escala inimaginável. Ocorre que a mesma sociedade criminógena, que gera infratores cada vez mais novos, prefere o cárcere e não se importa com o dia seguinte à obtenção da liberdade.

Se é difícil para quem não tem antecedentes criminais obter emprego formal, imagine-se a luta de quem acaba de sair da cadeia. É óbvio que a vítima e sua família merecem cuidados. Mas também o infrator, principalmente quando ele já cumpriu a pena, já passou pelo sistema carcerário e está prestes a ser reinserido na vida comunitária. Alguém precisa estender a mão a ele. Foi o que Alex Atala, Daid Hertz e Jayme Garcia dos Santos Júnior fizeram. Palmas para eles!