Ética para que?

Não estranhei que a palavra “ética” tenha sido excluída do Código de Conduta dos Senadores. Afinal, “ética” é ficção jurídica. Não existe, senão no discurso. Quem mais abusa de seu uso é justamente aquele que vende a alma para conseguir poder, dinheiro, prestígio, glória e fama.

Não é novidade o desinteresse dos exercentes de autoridade pelo tema ética. A resposta do alto dignitário que se responsabilizou pela retirada do verbete é significativa. A inclusão da ética “daria margem a interpretações perigosas. O que é ética para você pode não ser para mim. E aí incluir isso iria gerar problema de conflitos ali. A ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata” (OESP, 6.8.13, p.A4). Realmente, ética é algo subjetivo. Tanto que se fala em ética de propina, ética de negociata, ética de canalhice, ética de bandidagem, ética de ocasião, ética para os amigos, ética para os inimigos. Ética pública e ética privada.

Verdade que existe uma ciência chamada ética. Ela é conceituada como ciência do comportamento moral do homem em sociedade. Para essa concepção, a moral é o objeto da ética. Não se confundiriam ética e moral, como pretendem muitos. O importante seria um parâmetro de comportamento que visasse à prática do bem e, simultaneamente, se propusesse a evitar o mal. Todavia, aqui também caberia a ressalva: o que é bem para mim pode não ser para você, o que é mal para mim, poderia não ser para o próximo. A relativização é um dos signos mais fortes desta sociedade do narcisismo, do egoísmo, do materialismo e do consumismo.

A falta de seriedade com que se encaram as questões morais explica a situação de um Brasil onde a desconfiança é a regra geral. Ninguém confia em ninguém. Todos estão achando que o outro está pronto a lesar, a “puxar o tapete”, a enganar, a levar vantagem e a pensar unicamente em si. Muito pior do que pensar primeiro em si. Esta postura poderia levar à conclusão de que em segundo lugar viria o pensar no outro.

Ética é ficção jurídica. Parece impossível sanear um espaço contaminado em que a versão é mais crível do que a verdade. Espaço no qual a aparência vale mais do que o conteúdo. O processo se sobrepõe ao direito. O fingimento e a hipocrisia dominam e o probo é chamado de trouxa, incapaz de se aproveitar das oportunidades que levam ao sucesso e à riqueza.