Ética é a ciência do comportamento moral do homem em sociedade. Mais singelamente, aproxima-se de moral, porque ambas têm idêntica raiz: os costumes consolidados após longa reiteração, porque naturais, ínsitos à natureza humana.
Presente em todos os discursos, a palavra ética é muito pronunciada e pouco observada. Em nada contribui para o aprimoramento dos hábitos, notadamente os da política, tergiversar sobre o seu conteúdo mínimo. Assim, quando se fala que ética é meio e não dogma, sem dúvida enfraquece-se o anseio de tornar menos nebulosas as relações na política partidária.
Ética, em regra, não se presta a designar coisas diversas. Ela tem o sentido de higidez, de irrepreensibilidade, de correção, de postura moral. Quando sentidos diversos remetem ao mesmo referente – cão e cachorro, por exemplo – é viável o intercâmbio sem prejuízo para a compreensão. Mas isso não corresponde, em absoluto, a todas as situações.
É que “as línguas naturais têm o poder de construir o universo ao qual se referem; podem obter um universo de discurso imaginário” (Oswald Ducrot e Tzvetan Todorov, “Dicionário Enciclopédico das Ciências de Linguagem”).
Por que isso é importante: em certos contextos, a maneira diferente ou sentido de se falar do mesmo objeto revela pontos de vista distintos. É que o discurso nunca é neutro: “as palavras, expressões e proposições mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam” (M.Pêucheux, “Semântica e Discurso”).
Isso pode acontecer, por exemplo, quando se analisa a atuação do MST. Os proprietários rurais chamam de “invasão” a violação à propriedade privada e à lei e os militantes do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – denominam a mesma prática de “ocupação”, a sugerir ação legítima e pacífica de adentrar as áreas ociosas. São duas palavras para designar a mesma prática. Produzem significados diferentes, antagônicos, opostos. Qual é o verbete certo? Depende! Não há um sentido correto, exato e neutro.
Todavia, o mesmo não ocorre com ética. Se ela vier a ser usada para exprimir algo que não seja irrepreensível, hígido, moralmente bom, de nada mais valerá incluí-la em nossos dicionários. Sinal expressivo destes tristes tempos.