FALTA UM PROJETO DE PAÍS

O país parece saturado da falta de opções, ouve com tédio os
discursos políticos, no máximo com aquela vã esperança de que algum mágico
dê jeito nas coisas. O clima de exasperação, a rejeição passional da
divergência e a ausência de debate público bloqueiam quase tudo. As
manifestações estão aí, mas a qualquer momento podem derivar para o caos ou
esfriar. Também elas carecem de sustentabilidade e eixo. Desponta no
horizonte uma enorme crise social, que pode derrubar o governo desafiando as
instituições como nunca. As deficiências estruturais do país – na educação,
nos transportes, na saúde, na infra estrutura – não são atacadas com
determinação, mais as pessoas se irritam e se frustram, adubando o terreno
para todo tipo de explosão. É esse recado que vem sendo passado em todas
manifestações populares. A presidente Dilma e seus asseclas gastam mais
tempo arrumando desculpas de que interpretando e respondendo as mensagens do
povo. Segue-se com a mesmice de sempre, com o ufanismo que nos caracteriza,
a subserviência ao sistema internacional, aos bancos e aos mercados. Fazemos
de conta que não há desperdício, que o prometido legado da Copa, um ano
depois, virá no devido tempo, que os bilhões de reais canalizados para
construir ou reformar estádios foi a precondição para que o país se
organize. Nada se faz de concreto. Não há correntes sociais ativas para
sustentar mudanças que tragam boas novas, na verdade falta entendimento para
que se dê um arranque expressivo. De dentro e de fora do governo federal
ouve-se que o Estado precisa gastar menos, como se fosse possível reduzir ou
redefinir despesas públicas a essa altura do campeonato. Se a vida de parte
dos mais pobres melhorou graças às políticas de incentivo ao consumo e à
Bolsa Família, daí virão mais exigências de gastos públicos e não menos!
Surgem arranjos inusitados e expectativas que nem sempre poderão ser
atendidas. As pessoas quererão mais saúde, educação, transportes, e tudo com
mais qualidade. Coisas que exigem investimento, políticas e coordenação
estatal – um projeto de país, em suma, que é precisamente o que mais falta.
As manifestações têm se sucedido. Em todas, as agendas são idênticas:
transparência, respeito a direitos, reconhecimento, espaços de lazer,
transportes melhores, outra política. Que venha um futuro melhor com um
projeto de País.