FALTAM PROFISSIONAIS CAPAZES

No ano de 2012 escrevi nesse espaço sobre os graves problemas estruturais do
Brasil como a falta de estradas, caminhões, contêineres, portos, segurança e
saúde. Naquele momento mencionei que poderíamos ter um “apagão” de mão de
obra, caso o governo não tomasse rápidas providências quanto a capacitação.
Pois é, estudos do Serviço Nacional da Indústria SENAI confirmam que estamos
vivendo o tal “apagão” de mão de obra qualificada, mesmo com nosso País
crescendo a taxas médias pífias, próximas a 1,5% ao ano. O Governo da
presidente Dilma não fez o dever de casa, ou seja, capacitar cerca de três
milhões de trabalhadores por ano. Pesquisas da FGV apontam que 25% das
profissões em 2014 não existiam no ano de 2010, sendo que nasceram por conta
das novas tecnologias. O mesmo estudo menciona que os jovens que entraram na
universidade em 2014 ao se formarem trabalharão em profissões que ainda não
existem. O trabalho remunerado, atividade essencial ao engajamento econômico
e social do ser humano na sociedade, está em crise. O capitalismo global
contemporâneo vem trocando lealdade por produtividade imediata e vem
acabando com a época dos relógios de ouro como prêmio por logo tempo de
dedicação. Ninguém mais tem emprego de longo prazo garantido na sua atual
empresa. As próprias capacidades individuais, adquiridas por estudo ou
experiência, sucateiam a cada oito ou dez anos. O emprego será cada vez mais
voltado para tarefas ou projetos de duração definida. É uma mudança radical
em relação ao fim dos anos 1960, quando os indivíduos eram enraizados em
sólidas realidades institucionais nas suas corporações, que, por sua vez,
navegavam em mercados relativamente firmes. Na época dourada do capitalismo
do pró-guerra, vigorava certa “ética social” que domava a luta de classes e
garantia benefícios como educação, saúde e pensões por aposentadoria,
consideradas então direitos universais. A partir dos anos 1980, com a
globalização dos mercados, as corporações e seus investidores ficaram mais
preocupados com os lucros de curto prazo e os empregos começaram a cruzar
rapidamente as fronteiras. Com os avanços da tecnologia de informação,
tornou-se mais barato investir em máquinas do que pagar a pessoas para
trabalharem. Outra questão são os chamados “avanços” trabalhistas, os mesmos
que transformaram a região do ABCD Paulista em um mausoléu, região essa que
na década de 1980 era um centro empregador e capacitador. Hoje alguns
“espertinhos” trabalham cinco meses, forçam uma demissão, recebem
indenização de cerca de dois meses e “mamam” no governo com o seguro
desemprego por cinco meses. Mais ou menos, “trabalhe cinco meses e ganhe
doze”. Quanto a mão de obra, deve piorar caso o Brasil não reaja e capacite
rapidamente.