FARAÓS, DILMA E A SECA

O pior é que a pergunta parecia simples. Presidente Dilma, diante de uma das
maiores crises hídricas do sudeste e do centro oeste, reservatórios secos,
risco de racionamento de água e energia, quais são suas providencias
ambientais, inspiradas no plano de governo desse segundo mandato? Silêncio
total, “meia volta vou ver” e mais um jornalista no vácuo. Essa resposta
exigiria atitude, como a do primeiro-ministro Winston Churchill prometendo
“sangue, suor e lágrimas” aos ingleses na 2ª Guerra Mundial. Nem em sonho
esperar isso de Dilma. O arqueólogo Brian Fagan, em seu livro “Fomes,
enchentes e imperadores” narra história muito atual ocorrida no Egito, há
mais ou menos 4 mil anos. Fagan conta que o Egito apresentava sinais de
desordem social em razão da seca e da conseqüente fome pelo rompimento
coletivo de todas as represas em anos anteriores, por conta do excesso de
água e das cheias do Rio Nilo. “Sem os restabelecimento das represas, com o
Nilo sem água, todo o Alto Egito morreria de fome, a tal ponto que as
pessoas deram seus próprios filhos”, como se lê no túmulo de Ankhtifi,
funcionário graduado da burocracia provincial, que morreu por volta de 2.160
a.C. Suas inscrições funerárias descrevem um Egito “faminto como um
gafanhoto”, com “a população indo de norte a sul” à cata do que comer. O
papel dos faraós era fingir que mandavam no rio. Mas, na prática, o rio
mandava neles, avisa o arqueólogo Fagan. Se o verão era chuvoso na África
tropical, o Nilo subia, irrigando o deserto 6 mil quilômetros correnteza
abaixo e inaugurando, no delta, um próspero ano novo. “Quando ele sobe, a
terra fica em júbilo”, dizia um hino egípcio. Chama-se El Niño, a alteração
na temperatura do Pacífico que perturba as monções no Oceano Índico,
enguiçando, segundo Fagan, “as bombas d’água que mantinham o Antigo Egito
funcionando”. El Niño só veio a cair na boca do povo depois que o
aquecimento global passou a ser veiculado pela imprensa. O funcionário
Ankhtifi ( 2.160 aC.) não sabia nada disso, mas nós sabemos. Comentam no
Ministério do Meio Ambiente que a presidente Dilma não gosta nem de ouvir
falar em mudanças climáticas, muito menos de crise hídrica, o que nos põe
em dia com as grandes tradições faraônicas de 4.000 anos atrás. Dilma manda
na energia do Brasil somente há 12 anos, desde de quando era Ministra de
Lula, esperar dela uma resposta objetiva para solução da crise hídrica é
esperar demais. Pobres brasileiros, melhor seria ser governado por faraós.