O filósofo Lobão

Meu compadre Ricardo Henry Marques Dip, uma das pessoas mais eruditas que conheço, me presenteou com um livro cujo título é um desafio: “Manifesto do Nada na terra do Nunca”. Seu autor: Lobão. Não é o Ministro Edson Lobão, nem o clássico jurista. É o João Luiz Woerdenbag Filho, nascido em 1957, músico e escritor. Já escrevera “50 anos a mil”, sua autobiografia e agora oferece este libelo muito gostoso de ler.

Surpreendi-me por seu pensamento coincidir com grande parte do que também me passa pelo que resta de lucidez. Ele começa com um poema “Aquarela do Brasil 2″, em que um dos versos diz: “E lá vamos nós, descendo a ladeira! Rebolativos, minhóquicos, supersticiosos, crédulos, inabaláveis, venais… amantes de uma boa trapaça…com nossa displicência carnavalesca espetacular e os repetecos anuais dos feriados enforcados de destruição em massa”.

Quando aborda a “Terra do Nunca”, lamenta a mesquinhez do pensamento subdesenvolvido e cultuado por uma esquerda festiva – expressão que saiu de moda – que é ufanista sem motivo concreto. E sentencia: “Não conseguimos aprender com a sucessão dos fatos, não conseguimos nos desprender das mesmas ideias que nos paralisam. Morremos de medo de um dia sermos finalmente comparados com o mundo civilizado e desmascarados diante da nossa mediocridade, soberba, inoperância e impotência”.

Pode-se não concordar com tudo o que ele fala. Mas como negar razão a quem tem coragem de afirmar: “Estamos em um período em que há pessoas que vivem para o Estado e não o Estado para as pessoas”. Sua descrença com a política é explícita: “Da indignação veio a curiosidade: por que esses caras roubam tanto com essa pinta de salvadores da pátria? …

As falcatruas mais escabrosas são expostas sem que haja algum tipo consistente de protesto, muito pelo contrário, os índices de aprovação ao governo só aumentam”. E pontifica: “Uma sociedade que não prioriza o indivíduo está fadada a colecionar um bando de frouxos, pois o frouxo unido jamais será indivíduo”. São posturas instigantes para estes dias de manifestações que escancaram uma indignação difusa. Querem mais? Leiam o livro.