Desde o último dia 30 de abril, a ‘Missão Diplomática dos Estados Unidos para o Brasil’ (U.S. Diplomatic Mission to Brazil) mudou o processo de solicitação de vistos pra entrar na terra do ‘tio Sam’.
Agora o postulante brasileiro ganhou um novo site na Internet, onde poderá agendar entrevistas, além de um ‘Call Center’ novinho à sua disposição.
Como se não bastasse, no princípio deste mês de maio foram abertos ‘Centros de Serviços aos Candidatos a Visto’ (Applicant Service Centers/ASC) em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, pra coletar os dados biométricos dos solicitantes antes do comparecimento, devidamente agendado, a um dos consulados em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, ou à embaixada em Brasília, para o veredicto. Tais ‘centros’ têm horário de atendimento mais longo, incluindo fins de semana, e, juntamente com outros setores envolvidos na ‘linha de produção de vistos’, através de serão e mutirão com mais funcionários enviados pelo ‘Departamento de Estado’, pretendem atender mais, e melhor, à enorme demanda brasileira, reduzindo ao mínimo possível o tempo de espera, função diretamente proporcional ao tamanho da fila.
A despeito de toda a exploração política que o tema dos vistos irresistivelmente provoca, principalmente nos ufanistas – e naqueles que insistem em alegar ‘reciprocidade’ – no meu entender, o assunto diz mais respeito a administração de empresas, haja vista os dados do ‘Departamento de Estado’ americano:
Em 2011 foram emitidos aproximadamente 1 milhão de vistos aos brasileiros, e a previsão é chegar em 1,8 milhões anuais até 2013.
Assim, considerando-se a taxa única de US$160 por visto, hoje cobrada, chega-se ao respeitoso faturamento anual de US$288 milhões.
Só pra fins de comparação, tal valor se aproxima do contestado corte de US$300 milhões no orçamento do estado da Flórida para o ano fiscal de 2012/2013 imposto ao ensino superior público, nesse frenesi de corte de gastos que assola, sob protestos, a ‘perdulária américa’.
Nada mal pra uma repartição pública!
Difícil imaginar o Brasil incluído, apesar de toda a retórica, no ‘programa de isenção de vistos’ (Visa Waiver Program/VWP), hoje concedido aos cidadãos de 36 países, em cuja relação não consta – à exceção dos canadenses, os ‘bons vizinhos’, que têm salvo-conduto vigiado – nenhum país de nenhuma das ‘outras’ américas…
Adicionalmente, o ‘Departamento do Comércio’ americano (U.S. Department of Commerce) nos informa que mais de 1,5 milhões de brasileiros visitaram os EUA em 2011, onde deixaram quase 7 bilhões de dólares.
O Brasil é o sexto numa lista de 40 países, e, de longe, o que mais gasta, eis que 95% dos viajantes vão às compras – leia-se ‘shoppings & outlets’ – e menos de 20% aos parques nacionais, onde também se oferece muita coisa pra ser comprada!
Em demonstrativo do número de visitantes internacionais até 2016 – no qual os primeiros cinco postos pertencem ao Canadá, México, Reino Unido, Japão e Alemanha, respectivamente – vê-se que o Brasil ultrapassará a Alemanha em 2013, passando pro quinto lugar, e será ultrapassado pela China em 2014, voltando ao sexto, com 2,2 milhões de visitantes.
Mas não deixará de ser o campeão dos gastos tão cedo.
Não porque o viajante brasileiro seja mais rico do que os demais, e sim porque grande parte de nós não resiste à tentadora mistura de negócios com prazer.
Ajudados pela insistência da moeda e tributação interna fortes, nos deslumbramos com os preços das roupas, perfumes e eletrônicos, abusamos da isenção que a portabilidade facilita e lotamos vans e esteiras de aeroportos, congestionando a fila dos ‘nada a declarar’ com malas cheias de artigos pessoais e presentes pra parentes e amigos…
Pra mim, essa ‘missão diplomática’ dos Estados Unidos no Brasil parece mais uma excelente oportunidade de negócio muito bem aproveitada, e tais ‘upgrades’ operacionais nessa ‘joint-venture’ com o pessoal do ‘headquarter’ lembram melhor um bom administrador do que um missionário.