HOMO URBANUS

Em toda a história da Terra, somente uma cidade – a antiga Roma – se pôde vangloriar de ter tido mais de 1 milhão de habitantes antes do século 19. Londres foi a primeira cidade moderna com uma população superior a 1 milhão ou mais, somente no século 20.

Segunda Universidade de Nova York, há 200 anos, uma pessoa podia encontrar-se, em média, com 200 a 300 outras pessoas durante toda a sua vida. Hoje, um morador da cidade de Nova York pode viver e trabalhar em meio a 220 mil pessoas num raio de dez minutos de sua casa ou de seu escritório. Pela primeira vez na história, a maioria dos seres humanos viverá em áreas urbanas, muitos em megalópoles como São Paulo e seus subúrbios, com populações de 10 milhões ou mais, segundo a ONU. Tornamo-nos o “Homo urbanus”.

Enquanto a raça humana só podia contar com o fluxo solar, dos ventos e das correntes e com a força humana e animal para sobreviver, a população permaneceu relativamente baixa para afetar a recomposição da natureza – a capacidade da biosfera de reciclar o lixo e de recomposição de recursos naturais. Esse equilíbrio foi quebrado com a exumação de grandes quantidades de energia solar estocadas, primeiro na forma de carvão, depois de petróleo, gás natural e agora a biomassa do álcool por exemplo. Utilizados nas máquinas a vapor e, mais tarde, em motores de combustão interna, e transformados em eletricidade distribuída por linhas de transmissão, os combustíveis fósseis permitiram à humanidade criar novas tecnologias que aumentaram tremendamente a produção de alimentos, de bens manufaturados e serviços. O crescimento sem precedentes da produtividade levou ao galopante aumento populacional e à urbanização do mundo. Ninguém está realmente certo sobre se esse momento crucial de mudança das condições de vida humana deve ser comemorado, lamentado ou simplesmente aceito.

O escritor Elias Canetti observou certa vez que cada um de nós é rei num campo de cadáveres. Se parássemos um momento e refletíssemos sobre o número de criaturas e a quantidade de recursos naturais e materiais que expropriamos e consumimos durante toda a nossa vida, ficaríamos chocados diante de tanta carnificina e do esgotamento da natureza.