No filme ‘Tempos Modernos’ (1936) Charles Chaplin satirizava, entre outras coisas, a ‘robotização’ exagerada do trabalhador provocada pelo capitalismo.
Em 1942, o escritor de ficção-científica Isaac Asimov (‘Foundation Series’ e ‘Robot Series’) admirava a existência de robôs, desde que seguissem as ‘Três Leis da Robótica’: proteger os humanos, obedecer às suas ordens e se autoproteger, necessariamente nesta ordem.
Já no filme ‘2001 – Uma odisseia no espaço’ (1968), Stanley Kubrick apresenta o computador ‘Hal’, que se diz melhor que os humanos, e que controla a nave ‘Discovery One’ numa missão contraditória: investigar um corpo celeste estranho perto de Júpiter e ao mesmo tempo esconder dos tripulantes esse objetivo. Pra resolver o problema, ‘Hal’ tenta matar a tripulação de humanos, o que parecia ser uma decisão muito lógica.
Saindo do mundo da ficção, onde o homem trabalha como um robô, e o robô trabalha (quase) como um homem, e voltando ao mundo real, percebe-se que esses dois mundos nunca estiveram tão perigosamente próximos!
Com o tema do desemprego onipresente na mídia e no discurso de governos – e de candidatos a governo – do mundo todo, volta-se a discutir acirradamente quanto desemprego a automatização efetivamente tem causado.
É indiscutível que jamais se produziria tanto bem ou serviço se não fora a substituição do homem pela máquina, que, cada vez mais autônoma, alcança níveis inimagináveis de produtividade – entenda-se aqui a produtividade como a possibilidade de se produzir muito mais com muito menos horas de trabalho.
Logo, desemprego é efeito direto, e, por mais que o mercado se ajuste e o desempregado se adapte, a reabsorção acontece em progressão aritmética enquanto o avanço tecnológico – o da máquina! – vai de progressão geométrica, quando não exponencial.
E tanto que, de acordo com um artigo da revista ‘The Economist’, especialmente na área militar, já se deve começar a cobrar moral e ética dessas ‘máquinas pensantes’ – ou pelo menos dos seus criadores!
Outro lado perverso de tamanha fartura é que o seu preço não cai como a renda que derruba – ou que não permite existir – e manobras ‘geniais’ de marketing – ou do dinheiro fácil e barato! – pra induzir à posse alienada não dão acesso à adimplência.
Talvez a solução pro grande problema econômico do nosso tempo seja tratar o robô como um contribuinte, pelo menos enquanto não for possível torná-lo cliente (que já embute contribuinte), eis que ele não precisa de quase nada do que produz, por enquanto, e, no caso, a venda por impulso é mais difícil.
Funcionaria mais ou menos assim:
O governo dos humanos passa a tributar a produção robotizada – tão supérflua como a cerveja, sob a ótica de um robô – e emprega o humano, tornado ocioso, nas áreas sociais (saúde básica e educação, por exemplo), na manutenção e execução de obras públicas e na construção civil.
Em outras palavras, os humanos, menos produtivos e mais sindicalizados que os robôs, mas (ainda) mais sensíveis e criativos, só cuidariam de si mesmos, e, agora remunerados de novo, comprariam tudo o que precisassem do robô, e a paz e a prosperidade voltariam a reinar, pelo menos até que algum humano resolvesse humanizar ainda mais o autômato e começar tudo de novo…
– Livro pra reflexão: “The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future” by Martin Ford.