Convivi, numa época de minha juventude, com pessoas maravilhosas. Uma delas, Lupe Cotrim Garaude, linda poeta de olhos verdes e talento ainda mais belo. Acometida de câncer e intuindo fosse morrer, escreveu um poema: “Aceitarei a velhice”. Assim que o compôs, leu para os convivas de Dulce e Victor Geraldo Simonsen, no “clubinho” da Fazenda Campo Verde. Foi impossível deixar de chorar.
Lembro-me dela quando vejo o avanço da longevidade propiciada pela ciência e pela tecnologia. Pena que nem todos têm acesso a tais conquistas. Mas leio que Don Pellman, num evento de atletismo no final de setembro, ficou frustrado ao fracassar em três tentativas de salto com vara. “Pensei que eu estivesse em melhor forma”, explicou ele ao “The New York Times”.
Nada de interessante, a não ser a constatação de que ele está com 100 anos de idade. Mais tarde, marcou cinco recordes mundiais e tornou-se o primeiro centenário a completar a prova de 100 metros em 27 segundos e o primeiro a superar uma altura oficial no salto, sem mencionar a quebra de recordes para sua faixa etária em arremesso de peso e salto a distância. Sua obstinação é uma das razões das vitórias nos 127 eventos de atletismo dos quais participou desde que se aposentou em 1970.
Querer viver é o principal. O segundo é conseguir pagar um plano de saúde, pois o SUS ainda é um ponto nevrálgico nesta República em que alguns têm tudo, muitos não têm nada. A idade é algo bastante relativo, pouco ainda compreendido pelos jovens. Estes pensam que ficarão eternamente na juventude. Etapa tão fugaz, tão ilusória, tão semelhante às demais fases.
Sou nostálgico, porque tive uma infância ingênua.
Simples, mas bonita. Fui alvo de muito carinho, principalmente de minha mãe, minha avó materna, meus tios e primos, todos do lado de mãe. Assim que “descobri o mundo”, escolhi meus próprios amigos e formei com eles uma verdadeira família afetiva. Alguns deles, a Providência já chamou.
Chego a pensar que “do outro lado” o número de pessoas queridas é maior. Mas há compensações. Netos lindos, filhos amorosos. Bons e verdadeiros amigos. Mais do que mereço. Aceito a velhice, porque a alternativa teria sido muito ruim: morrer jovem.