E a inadimplência?

O governo brasileiro tomou várias medidas que se faziam necessárias para enfrentar a crise econômica internacional, que chega num ritmo mais rápido do que se esperava.

Baixou os juros, atacou drasticamente os spreads bancários e procurou incentivar o consumo, como agiu em 2008 e obteve sucesso.

Mas como vários analistas alertaram logo de início, hoje o consumidor está demasiadamente endividado, consequência ainda da referida política de incentivo ao consumo e exagero do crédito no início da crise mundial.

Com isso os resultados não foram satisfatórios e muito menos os esperados. Foram visados especificamente determinados setores da indústria, como a automobilística e da linha branca.

Segundo o Banco Central, em abril a inadimplência atingiu 7,6%, maior índice desde setembro de 2009. Pesquisa da Serasa revela que 350 mil inadimplentes em março, sendo que 64% destes as dívidas superam 100% de seus rendimentos mensais.

Fato preocupante é que em outros anos, quando a inadimplência também cresceu desde 2001, essa sempre esteve atrelada ao desemprego (O Estado de São Paulo), mas paradoxalmente hoje ocorre o contrário, o desemprego diminuiu em maio, e a inadimplência disparou.

Porém, uma análise mais detalhada mostra que o aumento dos empregos não é uniforme nos diversos setores, se por um lado a geração de empregos formais na Agricultura passou de 23.595 para 46.261, de abril a maio, por outro, caiu em outras áreas da atividade econômica, como na Construção Civil -67%, na Indústria de Transformação -30%, em Serviços -51% e no Comércio -75%.

Em momentos de crise é de fundamental importância muita prudência na interpretação de dados, pois não é raro nos depararmos com uma quantidade de informações contraditórias. E, o mais importante é termos clara visão do processo como um todo, e só isso levará a valorizarmos alguns dados, como também nos orientar para medidas corretas, que muitas vezes podem ser severas.

Como exemplo, há pouco mais de 5 meses o governo projetava o PIB de 5% para 2012, foi baixando-o seguidamente até ficar satisfeito com os 2,7% de 2011, quando o mercado já o projetava para menos de 2,5%. Recentemente o Credit Suisse falou em 1,5%, o que causou irritação na equipe econômica.

Ao que tudo indica as medidas “de urgência” se esgotaram, resta agora enfrentar o problema com procedimentos mais difíceis, porém básicas, como investimento, infraestrutura, socorrer a desindustrialização que segue adiante, e principalmente a reforma tributária, que é vital.

O principal problema para o governo é conseguir a conscientização do Congresso para essas mudanças, pois o empresariado e a população já deram mostras de flexibilidade, inúmeras vezes na história.