INDÚSTRIA CAMBALEANTE

O Brasil era importador de alimentos até os anos 1970. Hoje é um dos
celeiros do planeta. O gatilho das transformações das últimas duas décadas
ajuda a explicar não só o que ocorreu na agricultura, mas também o que não
ocorreu na indústria. Até 1990, o Brasil era um país comercialmente isolado
do mundo e com políticas paternalistas para a agricultura. O Plano Collor
deu o primeiro golpe, com o descasamento entre índices, que pôs fim aos
juros negativos para o crédito agrícola; a abertura comercial e o fim dos
órgãos que controlavam a produção e o comércio, como os institutos do Açúcar
e do Álcool (IAC) e Brasileiro do Café (IBC). Toda a produção e exportação
dos produtos da cana de açúcar eram reguladas pelo IAC e havia cotas para
cada produtor, que precisava de autorização para ampliar sua usina – um
sistema cubano. Só era permitida a exportação do açúcar do Nordeste. Collor
extinguiu o IAC e São Paulo tornou-se o maior exportador de açúcar do
planeta. Na pecuária, por causa de doenças, o Brasil não exportava carne
bovina, e vendia pequena quantidade de aves. Quando um setor atende apenas o
mercado interno, seu crescimento está condicionado ao aumento da população
ou do poder aquisitivo. O Plano Real deu o golpe final. Os preços agrícolas
caíram 20% e as dívidas, corrigidas pela TR, duplicaram de um ano para o
outro. Quem tinha crédito rural quebrou. Além disso, mais da metade da renda
rural vinha do overnight (os juros pagos pelos bancos, na esteira da
superinflação). Hoje, os produtores estão capitalizados: 40% da safra tem
financiamento próprio. A liberalização comercial diminuiu os impostos sobre
fertilizantes importados. E os choques de liberalização provocam
investimento em tecnologia. Os planos Collor e Real fizeram uma “tríplice
colisão”: comércio, inflação e políticas públicas. Mais adiante, em 1996, a
Lei Kandir retirou o ICMS sobre produtos agrícolas exportados, os únicos que
pagavam esse imposto. O setor não precisou de ajuda. Foi só o Brasil deixar
de ser antiagrícola. O Atual governo dito progressista, na verdade
bolivariano e centralizador. O que estão fazendo com o setor industrial? A
cada dia destroem um elo de sua cadeia produtiva. A forma com que vem
regulando as importações é praticamente o decreto da extinção do setor de
bens de produção. As indústrias de máquinas estão cambaleando, pré
falimentar. Não existem linhas de crédito simples. O dinheiro? Ele existe e
está no cofre aguardando a excessiva burocracia. É mais fácil o governo
financiar um play boy financiador de campanha como Eike Batista e concluir
que perdeu todo dinheiro, do que fazê-lo a um verdadeiro industrial. Estamos
arriscando perder todo nosso parque fabril caso não reinventem a política
industrial.