Madiba, Orixá e Curandeiro

A África do Sul ficou sem o seu maior ícone dos tempos modernos, mas quem perde mais agora parece ser a mídia internacional – no que se refere a matéria prima de boa qualidade – e os parentes de Nelson Mandela, que agora terão que viver de espólio sem lastro, fonte que o tempo costuma secar bem depressa…

A terra de Charlize Theron e do Cabo da Boa Esperança, graças aos dias de atividade inconformada – mas conciliatória – de seu líder Madiba, há décadas que deu cabo de suas piores tormentas desde os tempos das grandes navegações.

A economia sul-africana é hoje a mais forte da velha mãe África.

Desde 1996, o seu PIB praticamente triplicou – chegando a 400 bilhões de dólares – e as reservas internacionais saltaram de 3 bilhões para 50 bilhões de dólares, estabelecendo forte e crescente massa furta-cor de cidadãos de classe média, em menos de duas décadas de democracia e nenhuma saudade do abominável apartheid.

Não só conseguiram aumentar o tamanho do bolo, atendendo a mais comensais, mas também eliminar a exploração predatória dos colonizadores brancos, buanas mais focados em seus próprios safaris do que nas bestas humanas que os serviam.

Os sul-africanos originais também superaram a estupidez do tempo das disputas tribais quando só havia caça e tubérculos aos vencedores das guerras – comportamento primitivo ainda presente no confim africano – ao ponto de serem atualmente considerados uma nação em desenvolvimento, ao lado de países como China, Brasil, Rússia e Índia.

Com seus 51 milhões de habitantes, a África do Sul aumenta o seu PIB à razão média de 2% ao ano, onde a atividade industrial corresponde a 32% e os serviços a 66% do total.

O país tem 4,5 milhões de desempregados – 25% de sua força de trabalho de 18 milhões de cidadãos – 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,674 (121a. posição), mas ainda é considerado o 39o. melhor mercado para empreendedores, enquanto o Brasil é o 130o. – ah, o risco-brasil!

E por falar em Brasil – que abandonou o continente africano acompanhando a América  há milhões de anos e se tornou a sexta (ou sétima, dependendo de quem mede…) maior economia do planeta, mas ainda reza pelo seu Mandela – há mais incômodas semelhanças e disparidades com o país do original:

–       O PIB brasileiro, onde a indústria participa com poucos 27%, tem crescido na mesma razão de 2%, em média, ao ano;

–       A falta de emprego deixa mais de 5 milhões de pessoas nas ruas tomadas pelos automóveis imóveis (mais exatamente, 5% da força de trabalho de 107 milhões);

–       A quantidade de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza é também de 16 milhões de cidadãos (em torno de 8% de sua população);

–       O IDH geral do Brasil-esperando-um-Mandela, não é muito melhor que os 0,674 dos sul-africanos, ocupando a 85a. posição com 0,73.

(A título de comparação, o IDH dos EUA – 1o. lugar – é de 0,94 e os chilenos e argentinos estão acima de 0,8, revelando que los hermanos não têm só sorte no sorteio da copa mundial de futebol…)

Madiba certamente não será jamais esquecido como o Pai da Pátria da moderna nação sul-africana, mas sua contribuição ao seu povo foi tamanha que sua presença atuante não mais fará falta…